São Paulo, terça, 25 de agosto de 1998

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SAÚDE
Técnica de radioterapia bombardeia foco da doença com maior precisão e já foi usada com sucesso em tumor benigno
'Cirurgia sem corte' ataca câncer no cérebro

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

A radioneurocirurgia, chamada de "cirurgia sem corte"', é hoje uma das esperanças no combate ao câncer no cérebro, segundo especialistas reunidos no 17º Congresso Mundial de Oncologia, que acontece no Rio.
Nos últimos dez anos, essa técnica foi usada com sucesso contra tumores benignos. Agora, passou a ser empregada contra o câncer.
Na radioneurocirurgia, a cabeça do paciente é fixada em um aparelho, e o tumor cerebral é reconstituído em três dimensões em um programa de computador.
O aparelho tem um arco que contorna a cabeça, de onde saem raios finíssimos que vão diretamente ao tumor.
A técnica é melhor que a radioterapia normal por ser mais precisa. Na radioterapia normal, é como se os raios emitidos matassem as células do tumor, só que atingindo também outros tecidos, que não estão com a doença.
Na neurocirurgia, a precisão do computador e a forma como os raios são emitidos permitem que todo o tumor seja atingida e prejudicando menos outros tecidos.
No congresso do Rio, os especialistas não apresentaram números, mas sustentaram que, na maioria dos casos benignos tratados, a neurocirurgia conseguiu impedir o crescimento do tumor.
"Com a radioneurocirurgia, conseguimos atacar o tumor em toda a sua extensão, sem afetar tanto as partes normais do cérebro", afirma Hélio Lopes, diretor de Neurocirurgia do Instituto Nacional de Câncer, no Rio.
A técnica tem outras vantagens, segundo Lopes. A radioneurocirurgia permite dar cargas de radiação três ou quatro vezes maiores que as do tratamento usual. Com isso, há menos sessões de irradiação e menos efeitos colaterais.
O tratamento radioterápico tradicional pode provocar radiodermite (uma espécie de queimadura na pele), queda de cabelo e morte dos tecidos irradiados.
Para avaliar os resultados da neurocirurgia, os especialistas precisam esperar dez anos -tempo em que se pode conferir se um tumor que se julgava extinto não vai voltar a crescer, por exemplo.
A radioneurocirurgia é mais indicada em pacientes que não reagiriam bem à cirurgia tradicional -pacientes com problemas cardiovasculares, por exemplo.
Outra inovação no combate a tumores cerebrais é a quimioterapia localizada. Normalmente, tumores cerebrais não reagem ao tratamento com substâncias químicas, porque o medicamento entra na corrente sanguínea, mas não consegue penetrar no cérebro.
Na quimioterapia localizada, é feita cirurgia para tirar tecido com câncer e colocado medicamento nesse ponto. A partir daí, a substância se dissemina pelo cérebro.



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