São Paulo, terça, 25 de agosto de 1998

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Subsolo revela "rede de fuga' de presos

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

O peso de uma camionete foi suficiente para que parte do piso da garagem de um prédio que fica ao lado do 6º DP, no Cambuci (região central de São Paulo), cedesse e revelasse que o acidente foi causado por túneis construídos para a tentativa de fuga de presos -cuja carceragem é separada apenas por um muro do subsolo do edifício.
O acidente ocorreu no último dia 8, três dias depois que a Administração Regional da Sé determinou a interdição e a "desocupação total" da delegacia.
O piso do Condomínio Edifício Cleo e Luce ruiu quando a camionete fazia manobra na garagem.
"O carro afundou e resolvemos ver o que tinha causado o desmoronamento do piso. Aí encontramos túneis que vinham da direção da delegacia", disse o manobrista Ronaldo Primo. Os túneis foram encontrados em uma área de 180 m2 abaixo do piso removido.
O advogado e morador do prédio Cristiano de Souza Oliveira disse que de um dos túneis foram retirados fios com lâmpadas e um ventilador.
Desde o início do ano, 22 presos fugiram em cinco ocasiões do 6º DP. O último incidente aconteceu na última sexta-feira, quando um preso tentou fugir por uma corda.
Segundo a síndica do edifício, Laurinha Soares Alves, em 96, 22 presos fugiram do 6º DP por um túnel que desembocou no subsolo do prédio. Alguns detentos chegaram a tomar banho na torneira da garagem.
A carceragem do 6º DP sobrevive a uma série de ações que contestam a sua permanência.
Em 5 de junho de 97, o Ministério Público pediu a "imediata e permanente interdição" das celas.
O então juiz-corregedor dos DPs da capital, Francisco José Galvão Bruno, havia decretado, em 23 de setembro de 97, a interdição da carceragem da delegacia.
Um dos argumentos do juiz-corregedor foi um parecer do próprio Deplan (Departamento de Controle e Planejamento da Polícia Civil) que conclui que "tecnicamente não existia possibilidade de solução satisfatória do problema das instalações do DP". "Sugerimos, portanto, que as referidas celas sejam desativadas", diz o parecer.
No último dia 6, a advogada do condomínio, Regina Kerry Picanço, encaminhou à Corregedoria Geral de Justiça de São Paulo um pedido para que a decisão do juiz-corregedor fosse cumprida.
A assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública informou que, nos próximos dias, os presos serão transferidos para os novos presídios do interior.
A secretaria vai fazer uma avaliação dos danos causados pelos túneis para decidir que tipo de reforma fará na carceragem, que deverá abrigar presos universitários e com prisão administrativa.



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