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Funcionários facilitam motins, afirma presidente
DA REPORTAGEM LOCAL
Às 19h da sexta-feira passada, o
novo presidente da Febem, o promotor de Justiça Paulo Sérgio de
Oliveira e Costa, 42, interrompeu
a entrevista que concedia à Folha,
em seu gabinete, para prevenir
seu assessor: "Essa é a hora em
que o telefone começa a tocar para avisar sobre rebelião". Desde
que assumiu o cargo, no último
dia 9, ele já enfrentou sete motins
em Franco da Rocha.
Folha - Há indícios da participação de monitores de Franco da Rocha nas recentes rebeliões?
Paulo Sérgio de Oliveira e Costa -
Sim. Tanto que o resultado de
uma das sindicâncias me autorizou a afastar 34 funcionários que
estavam de plantão na rebelião do
dia 12. Há outras sindicâncias em
que isso será novamente apurado.
Folha - Esses monitores permitem que as rebeliões aconteçam?
Costa - Isso. Talvez interessasse a
essas pessoas desestabilizar essa
nova proposta [baseada na pedagogia], que não é apenas do presidente [da Febem], mas do secretário [da Educação, Gabriel Chalita] e de todos os envolvidos.
Folha - Vocês estão tentando
identificar esses funcionários?
Costa - Estamos apressando as
sindicâncias. O fato tomou tal
proporção que a Promotoria da
Infância chamou o Grupo de
Atuação Especial de Repressão ao
Crime Organizado (Gaeco).
Folha - Os funcionários identificados como omissos nas recentes rebeliões serão demitidos?
Costa - Se tivermos provas suficientes de omissão, serão demitidos e sofrerão todas as consequências judiciais decorrentes de
um ato grave dessa natureza.
Folha - Vocês pedirão ao Gaeco
que investigue, além do envolvimento de funcionários, se há empresas beneficiadas pelas seguidas
rebeliões? Construtoras contratadas com dispensa de licitação, fornecedoras de grades, colchões...
Costa - A extensão das investigações não é limitada e pode tomar
diversos rumos. Espero que não
haja indícios de uma situação como essa. Mas, se isso acontecer,
espero que os responsáveis sejam
severamente punidos.
Folha - A política de contenção
impede rebeliões, ainda que resulte em maus-tratos, segundo as denúncias. Como segurar uma unidade como Franco da Rocha, que não
tem estrutura física para comportar um projeto educativo, sem isso?
Costa - Não comungamos da
máxima de que um erro justifica o
outro. Se essas pessoas estiverem
participando desse tipo de coisa
[omissão], devem ser afastadas,
demitidas e punidas. O que vamos fazer no lugar, nos reservamos para o momento de verificar e acertar. Não é porque há risco de
tumulto na unidade que vamos ficar permitindo esse tipo de comportamento.
Folha - O governador vai pagar o
preço das rebeliões para que a fundação tome outro rumo?
Costa - É bem por aí. O governador disse, desde a primeira rebelião, que isso iria acontecer por
mais duas semanas e até um mês.
Apesar disso, ele está tranquilo e
disse que não recuaria um milímetro na disposição de superar o
problema da Febem, custe o que
custar. Já estou acostumado. A esta hora, entre 19h e 19h30, é capaz
que comecem a ligar para avisar
de uma nova rebelião. Não posso
afirmar que será causada por funcionário, mas os adolescentes saíram muito fácil [das celas] nessas sete rebeliões, ainda que a tropa
de choque tenha antes entrado na unidade para revistá-los e trancá-los nas celas. O choque entra de manhã, tranca todo mundo e à
noite acontece rebelião.
Folha - O presidente do sindicato, Antônio Gilberto da Silva, disse
que os adolescentes saem das celas
porque as grades estão frouxas.
Costa - Não é assim. Ninguém
pensaria em conter adolescentes
com uma fragilidade dessa.
Folha - Ele ainda afirma que há
uma determinação do diretor de
divisão de Franco da Rocha para
que os adolescentes não sejam
contidos
Costa - De jeito nenhum. Isso é
apenas uma forma de jogar as coisas nas costas do diretor.
Folha - Há um ano o governo vem
afirmando que o problema da Febem havia sido resolvido. Prova
disso era a ausência de rebelião. Os
senhores mudaram de opinião?
Costa - Estamos falando de
Franco da Rocha, mas não podemos generalizar, porque a unidade não representa o universo da
Febem. Há 5.400 internos ao todo.
Em Franco, são 400. Se a forma de
agir em todas as instituições fosse
igual em Franco, teríamos rebeliões no Estado inteiro. Há uma
mudança de política muito séria e
Franco congrega um grupo de
funcionários muito antigos, que,
suspeita-se, estariam descontentes com esse novo enfoque de
contenção com muita pedagogia
e com uma liberdade maior, ainda que dentro dos muros da instituição. Estou olhando para frente e não quero fazer análise de um
passado em que não estava aqui.
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