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Médica diz que jovens da Rocinha eram estudantes e trabalhadores
RENATA VICTAL
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A médica pediatra Evelyn Eisenstein, moradora do Jardim Botânico (zona sul), confirmou, em
entrevista à Folha, que os três
adolescentes assassinados por policiais militares na favela da Rocinha (zona sul), na madrugada de
domingo, eram estudantes e trabalhavam carregando compras
na feira livre do bairro.
O comando do Bope (Batalhão
de Operações Especiais da PM)
alega que os garotos (de 17, 15 e 13
anos) eram ligados ao tráfico e
que foram baleados em uma troca
de tiros. As famílias dos adolescentes negam. Os policiais que
participaram da operação foram
afastados até que a investigação
do caso seja concluída.
Eisenstein disse que conhecia os
meninos há três anos e que dava-lhes dinheiro para que fizessem a
feira para ela. "Eles eram honestos
e muito educados. Sempre que eu
esquecia de comprar alguma coisa, dava o dinheiro e eles compravam para mim. Nunca tive problema com o troco", disse a médica, que soube da morte dos jovens
pelo irmão de um deles.
"Fiquei chocada. Eram jovens
que trabalhavam para ajudar em
casa e estudavam. Sempre que tinham alguma prova mais difícil,
eles comentavam comigo."
Representante no Brasil da Ispcan (Internacional Society for the
Prevention of Child Abuse and
Neglect ), a médica afirmou que o
episódio teve repercussão no exterior. "A polícia está promovendo o extermínio desses jovens."
A governadora do Rio, Rosinha
Matheus (PMDB), concordou em
receber hoje os pais dos três jovens mortos e ainda os do outro
adolescente ferido na ação da polícia. Na terça-feira, Rosinha afirmara acreditar na versão da PM.
O presidente da Associação de
Moradores da Rocinha, William
de Oliveira, espera que a governadora peça desculpas. Se isso não
acontecer, disse, a revolta na comunidade vai aumentar. "São 250
mil moradores e a maioria é gente
de bem, sem nenhuma relação
com o tráfico. Estão todos indignados com a posição do Estado e
dispostos a fazer várias manifestações."
Em uma semana, foi o segundo
caso no Rio em que a PM foi denunciada pela morte e tortura de
moradores de favelas. Há sete
dias, cinco moradores do morro
da Coroa (Santa Teresa, zona central), em depoimento à Comissão
de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, denunciaram
PMs por tortura. Um deles foi
empalado com um cabo de vassoura e está internado em estado
grave no Hospital Miguel Couto.
Outro caso marcante aconteceu
em 16 de abril do ano passado,
quando quatro jovens foram assassinados durante uma operação
da PM no morro do Borel, na Tijuca (zona norte). Inicialmente, o
caso foi registrado como morte
em confronto. Moradores da favela e parentes dos mortos mobilizaram-se para provar que os jovens haviam sido vítima de chacina. No final do ano passado, a Justiça decretou a prisão preventiva
de cinco denunciados (acusados
formalmente), entre eles o comandante da operação.
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