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25 ANOS DEPOIS
Jean-Michel vai à Amazônia para fazer documentário, pesquisa e produzir material contra a degradação da área
Filho de Cousteau repete expedição do pai
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
O ambientalista Jean-Michel
Cousteau iniciou os preparativos
para repetir ainda neste ano a expedição que seu pai, o famoso
oceanógrafo Jacques Cousteau
(1910-1997), realizou na Amazônia há 25 anos. O objetivo é produzir pesquisas, um documentário e material para conscientizar a
população sobre a importância de
preservar esse habitat.
Jean-Michel veio ao Brasil na semana passada para acompanhar
as atividades de seu instituto no
país e falou com exclusividade à
Folha. Leia trechos da entrevista.
Folha - Quantas vezes o senhor
esteve no Brasil?
Jean-Michel Cousteau - Muitas
vezes. Nos últimos 25 anos, dez ou
15 vezes. Passei muito tempo na
Amazônia, para onde fui quatro
vezes e fiquei um total de 20 meses. A última foi no mês passado.
Folha - Como vê a situação atual
da Amazônia?
Cousteau - Tem muita coisa
acontecendo em razão da migração. As pessoas estão mudando
para lá, a maioria procura trabalho, e o nível de educação é baixo.
Eles não têm conhecimento e não
sabem como gerenciar o ambiente. Os recursos estão sendo muito
explorados. Quando estive lá no
mês passado fiquei espantado. As
mudanças nos últimos anos são
consideráveis em termos de número de pessoas, construção, indústrias, barcos. O ambiente sofre
com a pressão que está sendo colocada nele. Mas é uma questão
de gerenciamento.
Folha - O senhor pretende fazer
uma nova expedição à Amazônia?
Cousteau - Sim, provavelmente no
final do ano, em outubro. Vou fazer um documentário e começarei em breve as pesquisas.
Folha - O senhor já fez quase 80
documentários. Em que local de filmagem ficou mais extasiado?
Cousteau - Por incrível que pareça, em lugares que não tinham relação com oceano. Amazônia foi
uma delas, Papua-Nova Guiné
também, Austrália. É difícil falar
em um só.
Folha - Como foi a infância como
filho de Jacques Cousteau?
Cousteau - Quando era criança
meu pai era um desconhecido.
Apenas um oficial da Marinha
que gostava de explorar a água e
que começou a fazer documentários para ele mesmo e a criar equipamentos [inventou a máscara,
snorkel e pé de pato, e câmaras especiais para fotografia subaquática] porque eles não existiam. E eu
tive o privilégio de ser parte disso.
Folha - Quando mergulhou pela
primeira vez?
Cousteau - Comecei a mergulhar com sete anos de idade,
quando meu pai me jogou no
oceano mediterrâneo. Ele queria
que entendêssemos a natureza.
Tirava a gente de casa no meio da
noite para olhar as estrelas quando estava uma noite bonita. Só
quando eu fiz 18 anos percebi que
ele era meio diferente, porque
precisei usar traje de gala para o
lançamento do filme que foi o seu
primeiro grande sucesso. Apenas
no final dos anos 60 que sua popularidade cresceu, com a TV.
Folha - Por que o senhor fez arquitetura?
Cousteau - Eu me tornei arquiteto porque queria construir cidades na água.
Folha - Desistiu da idéia?
Cousteau - Não, só estou esperando um interessado. Se souber
de alguém, avise-me. Mas minha
educação de arquiteto eu usei o
tempo todo nas viagens, nos filmes. Penso que não importa a formação que escolher, sempre irá
ajudar no que for fazer depois.
Folha - O senhor aconselha todos
a mergulhar, mesmo as pessoas
que não são aventureiras?
Cousteau - Seria uma ótima coisa que todos mergulhassem porque isso faria as pessoas entenderem um outro mundo, do qual
dependemos. Não podemos esquecer que 72% do mundo é coberto de água. E, apesar de sermos
visitantes quando vamos ao mar,
a um lago ou rio, estamos intimamente ligados à água para ter qualidade de vida. É fascinante e não é
difícil [mergulhar]. Há muitas
pessoas inclusive não muito saudáveis que mergulham. Não é
preciso estar em ótimas condições físicas, apenas ok. Há muita
diversão e prazer nisso. Porém,
no momento em que coloca o rosto na água você ganha uma responsabilidade com aquele mundo.
Folha - Muitas pessoas pensam
que é difícil...
Cousteau - Esse conceito de que
é complicado é errado. As pessoas
falam de claustrofobia, o que é absurdo. Você entra num mundo
tridimensional, pode voar como
um pássaro e nadar como um peixe. Na terra não podemos fazer isso. Você de repente está livre.
Mergulhar para mim não é um esporte, é uma atividade. Assim como para dirigir, para mergulhar
você tem que aprender, ter um
professor. Uma vez que você consegue é maravilhoso. Meu avô
mergulhou pela primeira vez aos
75 anos e adorou. Não há limites.
Folha - Que ações danosas ao
meio ambiente chamam a atenção
do senhor no cotidiano?
Cousteau - Eu encontrei no meio
do nada, no Pacífico, escova de
dente, isqueiros, remédios. Eu encontrei lá, mas poderia ser em
qualquer lugar. No momento em
que você joga algo no chão, a chuva vai levar e chegará ao oceano.
Aqui no Brasil eu estava atrás de
um ônibus e as crianças, que estavam com lanche, jogaram para fora da janela sacos plásticos. Mas
isso é questão de educação, podemos mudar. As crianças não querem maltratar animais, mas elas
não fazem a conexão. Se mostrarmos as conseqüências, elas não
farão mais.
Folha - Qual é o maior problema
ambiental brasileiro?
Cousteau - Temos muitos químicos e fertilizantes indo para o
oceano e afetando todo o tipo de
vida e comprometendo as fontes
de alimento.
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