São Paulo, domingo, 26 de março de 2006

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25 ANOS DEPOIS

Jean-Michel vai à Amazônia para fazer documentário, pesquisa e produzir material contra a degradação da área

Filho de Cousteau repete expedição do pai

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

O ambientalista Jean-Michel Cousteau iniciou os preparativos para repetir ainda neste ano a expedição que seu pai, o famoso oceanógrafo Jacques Cousteau (1910-1997), realizou na Amazônia há 25 anos. O objetivo é produzir pesquisas, um documentário e material para conscientizar a população sobre a importância de preservar esse habitat.
Jean-Michel veio ao Brasil na semana passada para acompanhar as atividades de seu instituto no país e falou com exclusividade à Folha. Leia trechos da entrevista.
 

Folha - Quantas vezes o senhor esteve no Brasil?
Jean-Michel Cousteau
- Muitas vezes. Nos últimos 25 anos, dez ou 15 vezes. Passei muito tempo na Amazônia, para onde fui quatro vezes e fiquei um total de 20 meses. A última foi no mês passado.

Folha - Como vê a situação atual da Amazônia?
Cousteau
- Tem muita coisa acontecendo em razão da migração. As pessoas estão mudando para lá, a maioria procura trabalho, e o nível de educação é baixo. Eles não têm conhecimento e não sabem como gerenciar o ambiente. Os recursos estão sendo muito explorados. Quando estive lá no mês passado fiquei espantado. As mudanças nos últimos anos são consideráveis em termos de número de pessoas, construção, indústrias, barcos. O ambiente sofre com a pressão que está sendo colocada nele. Mas é uma questão de gerenciamento.

Folha - O senhor pretende fazer uma nova expedição à Amazônia? Cousteau - Sim, provavelmente no final do ano, em outubro. Vou fazer um documentário e começarei em breve as pesquisas.

Folha - O senhor já fez quase 80 documentários. Em que local de filmagem ficou mais extasiado?
Cousteau
- Por incrível que pareça, em lugares que não tinham relação com oceano. Amazônia foi uma delas, Papua-Nova Guiné também, Austrália. É difícil falar em um só.

Folha - Como foi a infância como filho de Jacques Cousteau?
Cousteau
- Quando era criança meu pai era um desconhecido. Apenas um oficial da Marinha que gostava de explorar a água e que começou a fazer documentários para ele mesmo e a criar equipamentos [inventou a máscara, snorkel e pé de pato, e câmaras especiais para fotografia subaquática] porque eles não existiam. E eu tive o privilégio de ser parte disso.

Folha - Quando mergulhou pela primeira vez?
Cousteau
- Comecei a mergulhar com sete anos de idade, quando meu pai me jogou no oceano mediterrâneo. Ele queria que entendêssemos a natureza. Tirava a gente de casa no meio da noite para olhar as estrelas quando estava uma noite bonita. Só quando eu fiz 18 anos percebi que ele era meio diferente, porque precisei usar traje de gala para o lançamento do filme que foi o seu primeiro grande sucesso. Apenas no final dos anos 60 que sua popularidade cresceu, com a TV.

Folha - Por que o senhor fez arquitetura?
Cousteau
- Eu me tornei arquiteto porque queria construir cidades na água.

Folha - Desistiu da idéia?
Cousteau
- Não, só estou esperando um interessado. Se souber de alguém, avise-me. Mas minha educação de arquiteto eu usei o tempo todo nas viagens, nos filmes. Penso que não importa a formação que escolher, sempre irá ajudar no que for fazer depois.

Folha - O senhor aconselha todos a mergulhar, mesmo as pessoas que não são aventureiras?
Cousteau
- Seria uma ótima coisa que todos mergulhassem porque isso faria as pessoas entenderem um outro mundo, do qual dependemos. Não podemos esquecer que 72% do mundo é coberto de água. E, apesar de sermos visitantes quando vamos ao mar, a um lago ou rio, estamos intimamente ligados à água para ter qualidade de vida. É fascinante e não é difícil [mergulhar]. Há muitas pessoas inclusive não muito saudáveis que mergulham. Não é preciso estar em ótimas condições físicas, apenas ok. Há muita diversão e prazer nisso. Porém, no momento em que coloca o rosto na água você ganha uma responsabilidade com aquele mundo.

Folha - Muitas pessoas pensam que é difícil...
Cousteau
- Esse conceito de que é complicado é errado. As pessoas falam de claustrofobia, o que é absurdo. Você entra num mundo tridimensional, pode voar como um pássaro e nadar como um peixe. Na terra não podemos fazer isso. Você de repente está livre. Mergulhar para mim não é um esporte, é uma atividade. Assim como para dirigir, para mergulhar você tem que aprender, ter um professor. Uma vez que você consegue é maravilhoso. Meu avô mergulhou pela primeira vez aos 75 anos e adorou. Não há limites.

Folha - Que ações danosas ao meio ambiente chamam a atenção do senhor no cotidiano?
Cousteau
- Eu encontrei no meio do nada, no Pacífico, escova de dente, isqueiros, remédios. Eu encontrei lá, mas poderia ser em qualquer lugar. No momento em que você joga algo no chão, a chuva vai levar e chegará ao oceano. Aqui no Brasil eu estava atrás de um ônibus e as crianças, que estavam com lanche, jogaram para fora da janela sacos plásticos. Mas isso é questão de educação, podemos mudar. As crianças não querem maltratar animais, mas elas não fazem a conexão. Se mostrarmos as conseqüências, elas não farão mais.

Folha - Qual é o maior problema ambiental brasileiro?
Cousteau
- Temos muitos químicos e fertilizantes indo para o oceano e afetando todo o tipo de vida e comprometendo as fontes de alimento.


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