São Paulo, Sexta-feira, 26 de Março de 1999
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EDUCAÇÃO
Projeto da Prefeitura de Belo Horizonte e do Unicef reduz trabalho infantil e aumenta frequência à escola
Programa tira crianças do trabalho de rua

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

Em três anos, um programa piloto da Prefeitura de Belo Horizonte conseguiu que 92% das crianças e adolescentes de 7 a 14 anos de Belo Horizonte que mendigavam ou trabalhavam nas ruas deixassem de fazê-lo.
O "Programa de Criança: Brincar e Estudar" foi promovido junto com a Amas (Associação Municipal de Assistência Social) e o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Criança) do início de 96 até o final do ano passado. Um livro sobre a experiência foi lançado ontem em Belo Horizonte.
Durante o período de atuação do programa, as famílias das crianças e adolescentes receberam uma bolsa mensal de R$ 100.
Em contrapartida, eles tinham de apresentar frequência às aulas de 90% e, nas horas restantes, recebiam orientação pedagógica e participavam de brincadeiras organizadas pela comunidade.
Essas crianças e adolescentes trabalhavam muitas vezes por mais de oito horas e, à noite, saíam para vender produtos, como flores ou amendoim torrado, nos bares da cidade, voltando para casa só de madrugada.
Em consequência, em 95, 40% deles não conseguiam frequentar a escola e, os que o faziam, apresentavam baixo aproveitamento por causa do cansaço e do sono.
Ao final do programa, 98% das crianças que ainda estavam sendo atendidas apresentaram frequência escolar de mais de 90%.
A coordenadora do programa, a psicóloga social Elizabeth Vieira Gomes, afirma que a bolsa de R$ 100 não foi a única razão para a adesão das famílias ao programa, porque, em época de festas natalinas, por exemplo, algumas crianças e adolescentes ganhavam até mais do que isso.
Ao contrário de outros projetos que atuam apenas sobre as crianças e adolescentes em estado de risco, o "Programa de Criança" prestou assistência também aos pais e irmãos, tentando devolver para os adultos a responsabilidade pelo sustento da casa.
Com isso, 1.500 crianças e adolescentes receberam acompanhamento escolar, 200 adolescentes entre 14 e 18 anos foram encaminhados a cursos profissionalizantes e 150 adultos receberam capacitação profissional.
Uma pesquisa inicial identificou, em 95, que havia 545 crianças e adolescentes, na faixa etária atendida, trabalhando ou pedindo esmolas nas ruas centrais de Belo Horizonte. Deles, 363 moravam efetivamente na capital mineira.
Por indicação dos conselhos tutelares da criança e adolescência e das escolas públicas da cidade, foram incluídas mais 150 famílias com crianças que trabalhavam na periferia da cidade ou em afazeres domésticos, totalizando 500 famílias atendidas.


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