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SAÚDE
Cigarro dispara
gatilho do infarto
JAIRO BOUER
especial para a Folha
O cigarro é considerado hoje,
entre todos os fatores de risco para
o coração, o principal determinante de infarto ou de morte por
doença cardíaca em pessoas com
menos de 50.
Estresse, vida sedentária, colesterol elevado, pressão alta e predisposição genética têm papel importante nas doenças do coração,
mas o cigarro é uma espécie de
"gatilho" de todo esse processo.
Essa é a posição defendida pela
cardiologista Jaqueline Scholz Issa, do grupo de prevenção do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da USP.
O cigarro prejudica o coração e
os vasos sanguíneos por meio de
vários mecanismos. Em primeiro
lugar, ele lesa o endotélio (camada
que reveste os vasos), facilitando o
início da formação de uma placa
na parede dos vasos. A fumaça
oxida o LDL-colesterol, facilitando a incorporação da gordura às
placas que estão se formando.
O monóxido de carbono (um
dos componentes da fumaça) se liga à hemoglobina -pigmento que
transporta o oxigênio dentro dos
glóbulos vermelhos do sangue.
Com isso, os tecido do corpo recebem menos oxigênio para manter
o trabalho das suas células.
Além disso, o cigarro funciona
como um agregante plaquetário,
ou seja, ele aumenta a chance de
um coágulo de sangue que pode
obstruir, de vez, a passagem de
sangue por dentro de uma artéria.
Componentes do cigarro levam
à liberação de substâncias que aumentam a frequência de batimentos cardíacos e diminuem o calibre
dos vasos de sangue, provocando
aumento da pressão arterial. O cigarro ainda é responsável por arritmias cardíacas e morte súbita.
Aneurisma (dilatação) na aorta,
insuficiência de irrigação em pernas, "derrames" cerebrais, impotência sexual masculina e embolismos (êmbolos de sangue que vão
para o pulmão), são outros exemplos de problemas vasculares graves causados pelo cigarro.
O cardiologista Abrão Cury, do
Hospital do Coração e diretor
científico da Sociedade Brasileira
de Clínica Médica (regional São
Paulo), diz que das 400 mil a 500
mil mortes que acontecem, todos
os anos, no Brasil, cerca de 120 mil
estão ligadas ao cigarro.
Além das doenças cardiovasculares, Cury diz que o cigarro está
reconhecidamente relacionado a
diversos tipos de câncer. Por todo
lugar em que a fumaça do cigarro
passa, ela aumenta o risco de um
câncer. Isso inclui boca, orofaringe e pulmões. A bexiga, por ser um
local em que muitos subprodutos
do cigarro ficam armazenados,
antes de serem eliminados, é alvo
da ação cancerígena do cigarro.
Tratamento
Um trabalho inédito, que acompanhou cem fumantes em São
Paulo, mostra que uma intervenção mais ativa por parte do médico fez com que 42% dos pacientes
parassem de fumar e se mantivessem sem cigarros ao fim de um
ano. O índice de sucesso nas tentativas espontâneas, ao final de um
ano, é da ordem de 5% a 10%.
Uma intervenção mais ativa significa que o médico se põe claramente contra o hábito de fumar e
prescreve adesivos de nicotina.
O tratamento durou 12 semanas,
sem trabalhos simultâneos de psicoterapia. "A idéia era tornar o
tratamento mais simples e fortalecer o vínculo entre médico e paciente", diz Jaqueline Scholz Issa.
O trabalho será publicado em
maio na revista "Arquivos Brasileiros de Cardiologia".
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