São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2004

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UnB veta 4,8% dos que concorreram às vagas do programa de cota racial

LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A UnB (Universidade de Brasília) divulgou ontem a relação dos candidatos selecionados para disputar vaga no vestibular de junho dentro da cota para negros. Dos 4.385 estudantes que pediram o benefício, 212 (4,83%) não foram selecionados para o programa, inédito na história da instituição.
A universidade federal oferecerá no próximo vestibular, em 61 cursos, 1.994 vagas -20% delas serão reservadas para negros. Ou seja, 23.217 candidatos inscritos irão disputar 1.602 vagas, uma relação média de 14,5 candidatos por vaga. Já os selecionados para as cotas (4.173) disputarão 392 vagas, ou 10,6 candidatos por vaga.
Para Mauro Rabelo, diretor acadêmico da entidade responsável pelo vestibular da universidade, os candidatos excluídos não foram classificados como negros.
"Eram brancos. Nosso critério é a cor de pele. Alguns entenderam que seriam selecionados pela ascendência. Outros tiveram má-fé, "se colar, colou'", afirmou. A UnB fotografou os candidatos que se declararam aptos a concorrer dentro da política de cota racial.
Segundo ele, já era esperada uma rejeição de 5% dos pedidos. A universidade aceitou que pessoas de cor parda se declarassem negras no processo de seleção.
Segundo estudo realizado em 2002, cerca de 2% da população estudantil da universidade se declara negra. Não há, porém, uma estatística de quantos são pardos.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), do Ministério da Educação, os negros são 3,6% dos alunos que se formam no ensino superior e os pardos, 20,4%. A pesquisa é baseada nas respostas de 430 mil estudantes, de 26 áreas, que fizeram o Provão em 2003. Nas universidades federais, informa o Inep, 4,4% são negros e 30,3%, pardos.
No país, segundo o Censo 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 6,21% da população é negra. Somando-se os pardos, o índice sobe para 45%.
"A seleção para disputar a cota de negros não acaba com a ansiedade. Ainda temos a prova para fazer, e os concorrentes também estão estudando", afirma Larissa Leite Macedo, 18, que disputa vaga em direito. "O resultado da cota dá mais alegria para estudar. É uma primeira vitória", diz Amanda Santos Veloso, 17, que concorre a uma vaga em agronomia. Marcelo Antônio da Silva, 21, que fez o ensino médio público, disse que as cotas são uma oportunidade para quem não teve acesso a uma educação de qualidade.
Quem não foi selecionado para concorrer à cota pode apresentar recurso amanhã ou na sexta, mas terá de apresentar um documento oficial para comprovar a cor.
Entre 26 e 27 de junho, todos os concorrentes farão o vestibular. Eles serão então classificados por nota. Para quem está no sistema de cotas, primeiramente será analisada a posição nas vagas separadas para o programa. Se já estiverem ocupadas por alunos com notas maiores, ele automaticamente passa para a triagem geral.
"A idéia é que, a cada 10 vagas, 2 sejam para negros. O programa de cotas condiz com a função social que a universidade pública deve ter", afirmou Dione Moura, relatora do projeto que deu origem ao programa de cotas.


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