São Paulo, sábado, 26 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Controladores não usam mais radar no AM

Operadores do Cindacta-4, em Manaus, alegaram problema no radar e passaram a monitorar vôos apenas por meio de rádio

Eles alegam proliferação de alvos falsos no radar; FAB nega e diz que serviço de vigilância radar é prestado com total segurança

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Controladores de tráfego aéreo passaram, há cerca de um mês, a monitorar vôos sem o uso de radares no Cindacta-4 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo), o centro de Manaus responsável pelo espaço aéreo da região amazônica e que integra o projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
Eles alegam que há proliferação de "alvos falsos" e informações incorretas sobre os aviões nas telas. A FAB (Força Aérea Brasileira) afirma, por meio do centro de comunicação social, que não há problemas com o funcionamento de radar no Cindacta-4 e que as queixas de controladores motivaram uma análise técnica da situação.
Mas, para controladores ouvidos pela Folha, a vigilância por radar nessas circunstâncias apresenta risco à segurança aérea. Sem o uso de radar, o controle aéreo é feito por rádio e há um maior distanciamento entre os aviões -isso reduz a quantidade de vôos simultâneos numa região.
Em reação às queixas de falta de segurança e confiabilidade do sistema, o Cindacta-4 emitiu o "AVOP 002", um aviso operacional com ordens sobre o uso do mecanismo de vigilância por meio de radar.
O aviso começa afirmando que o serviço radar deve ser suspenso em caso de "falha de detecção radar" em algumas áreas, mas caberá ao supervisor de equipe avaliar a manutenção dessa suspensão e avisar o oficial chefe de sala.

Ordem
No item 2 do documento, a ordem é manter a vigilância por radar mesmo quando há "duplicação de alvos radar e variações de proa e/ou velocidade" -porém, não se deve fazer "vetoração" (orientar pilotos na navegação).
O documento também dita que, em algumas áreas definidas pela Força Aérea Brasileira, o serviço por radar pode ser suspenso para uma determinada aeronave, em caso de perda de detecção ou dados. Mas afirma, entretanto, que não há impedimento para continuar a vigilância por radar para as demais aeronaves nos mesmos "espaços aéreos" onde aconteceu o problema.

Dúvida
O aviso operacional permite que os controladores, em um caso no qual tenham "dúvida", aumentem a distância existente entre aeronaves -mesmo procedimento da operação não realizada por radar.
"Nos casos em que o controlador tenha dúvidas com relação a uma separação radar durante a prestação de serviço de vigilância radar, a separação radar horizontal prevista no modelo operacional do órgão deverá ser substituída por uma separação vertical", diz o texto.
Para os controladores, que pedem anonimato, a situação no Cindacta-4 é preocupante. De acordo com eles, os alvos falsos são motivo de tensão porque nem sempre está claro quais são aeronaves de verdade. Sinais podem surgir de repente e permanecer na tela ou voltar a sumir.
Eles consideram que não podem ser responsáveis, subjetivamente e individualmente, pela decisão sobre os casos específicos de "dúvidas". Também sustentam que, se os dados nas telas de radar não são confiáveis para vetoração, não deveriam ser para a vigilância radar também. Argumentam o mesmo a respeito de vigiar algumas aeronaves por meio dos radares, mas não os demais no mesmo setor.

Imagens
Em uma tela radar fotografada e enviada à reportagem, há aglomerados de "alvos falsos" que se confundem visualmente com aviões reais. A FAB contesta essas imagens.
O Cindacta-4 foi formalmente criado em janeiro de 2006, mas a vigilância de vôos já acontecia antes disso. A instalação de radares na região amazônica começou em 1992. Ganhou ímpeto com o projeto Sivam a partir de 2002 e em 2005 já estavam funcionando 25 radares para a região.


Texto Anterior: Cerca de 100 alunos invadem prédio da Unesp em Rio Claro
Próximo Texto: Pilotos do jato Legacy são denunciados
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.