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WALTER CENEVIVA
Octavio
Posso dizer que nossa relação foi fraterna, construtiva e, sobretudo, marcada por sua lealdade exemplar
O TÍTULO DESTA coluna tem
uma explicação: nos 40 anos
em que convivi com Octavio
Frias de Oliveira, desde o primeiro
dia, sempre só o chamei de Octavio.
Trabalhar com ele correspondeu a
alternativas e soluções próprias da
advocacia e do jornalismo, trocando
idéias com toda franqueza, ora aceitas, ora recusadas ou recompostas
na busca da melhor resposta de cada
problema. Transcenderam muitas
vezes os temas de direito ao envolver os fatos da vida, matéria na qual
recebi dele lições preciosas. Talvez
por tudo isso a naturalidade do uso.
Aproximamo-nos mais quando
Octavio e seu sócio Carlos Caldeira
Filho assumiram, em 1968, a presidência e a vice-presidência da Fundação Cásper Líbero, então com
muitas dificuldades econômico-financeiras. Octavio não desistia da
crítica enquanto insatisfeito com a
resposta para qualquer solução, mas
a acolhendo quando delineada em
clareza. Posso dizer que nossa relação foi fraterna, construtiva e, sobretudo, marcada por sua lealdade
exemplar, que me esforcei para responder com a mesma força. Jamais
precisamos de papéis assinados para firmar decisões e para as cumprir.
Octavio também teve pela frente,
particularmente nos primeiros meses de 1969, a situação política nacional em plena fase dos atos institucionais, complicada e policialesca,
contraposta aos esforços para manter a Folha na ascensão que a levou
a se tornar o diário independente e
pluralista de maior circulação no
Brasil. Aquilo que parecia simultaneamente impossível, recuperar a
Fundação Cásper Líbero e manter
a caminhada da Empresa Folha da
Manhã S/A, foi alcançado por Octavio com a paciência e o empenho
das grandes empreitadas, após ele
ter assumido o controle exclusivo
da Folha.
Ações foram movidas pelo governo federal contra o jornal. A empresa tinha excelentes advogados,
mas participei em algumas delas.
Além da defesa judicial, havia necessidade de esclarecer o público
leitor a respeito de execuções absurdas. Octavio me surpreendeu
muitas vezes na busca de explicação mais clara e transparente para
o fim visado. A discordância vigorosa estimulou a busca do equilíbrio, sem criar uma só situação em
que o desencontro de posições originasse estremecimento. Ele freqüentemente contribuiu para
achar a fórmula precisa do direito.
Houve sacrifícios emocionais,
superação de situações pessoais.
Houve o combate das dificuldades
tributárias e previdenciárias, de
origem política, mas sempre olhadas de frente. As lembranças resumidas daqueles decênios compõem o leque de percursos, às vezes tomando horas diárias, às vezes
em longos intervalos, em particular na variedade de tempos agitados, em que serviu de exemplo
marcante a venda da antiga Estação Rodoviária. De tudo fica a sensação da tarefa cumprida, a compor linhas de amizade tão sólida,
que só me permitiu escrever essas
palavras após passadas semanas da
morte de Octavio. Tempo para serenar o espírito e avaliar o significado de sua perda para a família,
para o jornalismo e para mim. Foi
Octavio quem, há dezenas de anos,
me convenceu a escrever esta coluna. Os dias passados amadureceram a idéia de, na sua ausência, homenageá-lo com carinho.
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