São Paulo, sábado, 26 de maio de 2007

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Cai taxa de escolas com sistema de ciclos

Número de instituições que adotam o método no país é o menor desde 1999, segundo dados do Ministério da Educação

Prefeitura do Rio de Janeiro, onde 31,8% das escolas usam a técnica, quer ampliar os ciclos para todo o ensino fundamental

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O número de escolas de ensino fundamental que adotam ciclos no Brasil caiu 11,4% de 2005 a 2006. Com isso, a proporção das que utilizam esse método variou de 17,3% para 15,8%, o menor patamar desde 1999, segundo informações do Censo Escolar do MEC (Ministério da Educação).
A queda pode ser reflexo da rejeição de parte da sociedade ao sistema, que é defendido por muitos educadores -mas também criticado por outros- como uma forma de combate à evasão e repetência.
A adoção na rede estadual paulista gerou acalorados debates nas eleições de 2002 para o governo do Estado. O mesmo acontece agora na cidade do Rio por causa da decisão da prefeitura de ampliar os ciclos, antes restritos até a 5ª série, para todo o ensino fundamental.
Rio e São Paulo estão entre os Estados que mais adotam ciclos. Em São Paulo, são 61,3% das escolas. No Rio, 31,8%. Minas (41,5%), Mato Grosso (37,2%) e Paraná (23,5%) completam a lista dos Estados onde o percentual é superior a 20%.
A idéia de que os alunos não sejam sempre retidos de um ano para o outro e tenham mais tempo para aprender não é original do Brasil, nem nova. Em SP, por exemplo, o sistema foi implementado na gestão do educador Paulo Freire, falecido há dez anos, na prefeitura de Luiza Erundina (1989-1992).
Apesar de toda a polêmica, a proporção de escolas que utilizam o sistema no Brasil nunca foi superior a 20%. Na rede particular, apenas 498 estabelecimentos, ou 2,6%, aderiram.
O maior benefício dos ciclos, na visão de seus defensores, é atacar as vergonhosas taxas de repetência do Brasil. Entre 165 países dos quais a Unesco tem informações, o Brasil fica na 15ª posição, com 20% de alunos repetentes. Apenas países africanos de baixíssimo desenvolvimento humano -como Togo- ou outras nações também muito pobres -como Nepal- apresentam taxas maiores.
No Brasil, estudos feitos a partir do Saeb (exame do MEC) mostram que a repetência, em vez de ajudar no aprendizado, é um dos fatores que mais prejudicam o desempenho do aluno. O impacto do sistema de ciclos na qualidade, no entanto, ainda é pouco estudado.
Três pesquisas recentes com base no Saeb -Fátima Cristina Alves (PUC-RJ), Naercio Menezes Filho (USP e Ibmec-SP) e Maria Eugênia Ferrão, Kaizô lwakami Beltrão e Denis Paulo dos Santos (publicada pelo Ipea)- chegaram a conclusões semelhantes: o desempenho de alunos no regime seriado é melhor, mas a diferença é pequena ou insignificante.
"Esses estudos mostram que os alunos em redes seriadas têm desempenho apenas um pouco melhor que os demais, um resultado que até poderia ser interpretado em favor da série, mas eu não faria isso. Nas redes com ciclos, o fluxo tende a ser muito melhor [porque as taxas de repetência e evasão são menores]. Isso aumenta a probabilidade de os alunos virem a concluir, no futuro, o ensino médio", diz Creso Franco, especialista em avaliação educacional da PUC-RJ.
Para Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, os ciclos ficaram desmoralizados no Brasil porque "vieram acompanhados de uma ideologia de que cada criança aprendia a seu tempo e de que não era preciso avaliar mais ninguém. Com isto, a qualidade continuou ruim".


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