São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2001

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SISTEMA PRISIONAL

Durante protesto contra suspensão de visitas e de banho de sol, preso em Bangu é baleado na cabeça

Greve de agentes tumultua presídios no Rio

Severino Silva/Agência "O Dia"
Mensagens de protesto escritas no campo de futebol por detentos de Bangu, após preso ser baleado


WAGNER MATHEUS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

A paralisação dos agentes penitenciários do Estado do Rio de Janeiro resultou ontem em protestos, queima de colchões, tiros, um detento ferido a bala e em tentativa de fuga feita por um grupo de mulheres encarceradas no presídio feminino Talavera Bruce (Bangu, zona oeste do Rio).
O complexo penitenciário de Bangu foi o principal foco da contestação dos presidiários à greve dos agentes penitenciários, que foi deflagrada anteontem.
Com a paralisação, as visitas e os banhos de sol foram cancelados. À noite, os agentes decidiram manter a greve pelo menos até amanhã, quando vão realizar uma nova assembléia. Apesar da paralisação, eles estão mantendo serviços de alimentação dos detentos e de segurança.
Logo de manhã, o preso Paulo Luís Sena, 22, foi baleado na cabeça durante manifestação dos internos do presídio Vicente Piragibe (Bangu). Os presos protestavam contra a decisão dos grevistas de não permitir a entrada de parentes e de suspender o banho de sol. Até o início da noite, a direção do Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário) -órgão do governo estadual- não havia informado como o preso foi baleado e quem fez o disparo.
Agentes do Desipe foram acusados pelos presos, que, após subir no telhado e pular para um campo de futebol, escreveram no chão, com tinta branca: "Covardia, balearam o amigo" e "Foi o Desipe "q" atirou".

Protesto dos familiares
Do lado de fora do complexo penitenciário, parentes realizaram uma manifestação, revoltados por não poder fazer a visita.
""Não me deixaram nem mesmo entregar a comida para meu filho. Não fui trabalhar para pode visitá-lo. O que vou fazer agora?", gritava Selma dos Santos, 51, empregada doméstica.
Cerca de três horas depois que Paulo Luís Sena foi baleado, dezenas de presidiárias do Talavera Bruce se rebelaram contra a suspensão das visitas.
Um grupo delas -o Desipe não informou quantas- chegou a quebrar as telhas do prédio, pulou para o chão e correu em direção ao muro, em uma tentativa de fuga. Os agentes fizeram pelo menos dez disparos para o alto a fim de impedi-las. Não houve feridos, segundo os agentes.
As presas também incendiaram colchões, panos e roupas. Algumas gritavam que estavam sendo ameaçadas pelos agentes penitenciários do Talavera Bruce.
O complexo de Bangu é composto por oito presídios, quatro casas de custódia (para presos à espera de julgamento) e dois hospitais. Os cerca de 120 agentes penitenciários que trabalham no local são responsáveis pela vigilância de 14 mil presidiários.
Em Niterói (cidade a 15 km do Rio de Janeiro), pela manhã, sete presos se rebelaram na Casa de Custódia Vieira Ferreira Neto.
De acordo com a Polícia Civil, o grupo ateou fogo em colchões, arrancou cadeados de oito celas e quebrou grades.
Os presos rebelados, que não fizeram reféns, acusaram os agentes de praticar espancamentos, de obrigá-los a fazer faxina e de colocar, em uma mesma cela, integrantes das facções criminosas rivais Comando Vermelho e Terceiro Comando.
O comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar, coronel Rodolfo Lyrio, afirmou que a rebelião, que durou cerca de 30 minutos, foi controlada pelos PMs.
Os presos que disseram ter sido espancados prestaram depoimento na 78ª Delegacia de Polícia e foram submetidos a exames de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal).
De acordo com o Desipe, não houve problemas no complexo penitenciário da Frei Caneca (centro do Rio) e no presídio Ary Franco (zona norte da cidade).


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