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FAVELAS
Sociólogo da UFRJ afirma que o traficante que não pertence à comunidade acaba utilizando a força para se impor
Associação de morador é refém do tráfico, diz professor
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
O professor de sociologia da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro) Michel Misse,
criador do núcleo de pesquisas do
Instituto de Segurança Pública,
afirma que as associações de moradores de favelas são reféns da
política do tráfico de drogas.
"A vida do traficante é o que determina a relação das associações
com o comércio de drogas. Os líderes comunitários são reféns da
política do tráfico, que tanto pode
ser de terror como de boa vizinhança", afirmou.
Misse, que visitou favelas para a
tese de doutorado "Malandros,
Marginais e Vagabundos - A Acumulação Social da Violência no
Rio de Janeiro", diz que o traficante que nasceu e cresceu na favela tende a não interferir na associação. Se é de fora, tenta se impor
pela força. "É a política do terror.
Na favela, não há relações de trabalho; o que há são laços de amizade e parentesco. Quando não
estão presentes, só resta a força."
Anteontem, a Folha mostrou
que duas favelas do complexo do
Jacarezinho (zona norte) estão
praticamente fechadas por ordem
de líderes comunitários. Foram
instalados portões de ferro com
cadeados e microcâmeras.
O objetivo, segundo o líder comunitário Rumba Gabriel, presidente da associação do Jacarezinho, é garantir a segurança da comunidade. A iniciativa faz parte
do projeto Condomínio-Favela,
criado pelo Movimento Nacional
de Favelas, no qual Rumba milita.
Para especialistas em segurança
pública, os portões dificultarão a
ação da polícia.
Segundo Misse, a convivência
com o tráfico nas favelas é inevitável, pois na maioria delas há venda de drogas. "Bocas-de-fumo todas têm. Estimativa da Secretaria
da Segurança mostra que 300 das
cerca de 1.200 favelas do município têm comércio de drogas, e
que, em pelo menos 50 delas, há
uma rede mais organizada."
Para o pesquisador, quando o
"dono" do morro é "alemão" (gíria para quem não é da comunidade), os líderes comunitários ficam sujeitos às regras do tráfico.
"Nesses casos, não há como se livrar da relação com o tráfico, sob
pena de ser morto."
Misse diz que, em um primeiro
momento, os traficantes tentam
se integrar à comunidade, aproximando-se das associações. Quando há resistência, expulsam ou
matam os líderes e colocam homens de confiança no lugar.
"É a forma encontrada por eles
para impor respeito, evitar traições e a perda do poder local. Os
traficantes que se mantêm mais
tempo no poder, porém, são os
criados na favela e que não precisam utilizar essa política, pois são
respeitados pelos moradores."
Mas todos os traficantes podem
agir como interventores nas associações quando o líder não segue
interesses de comunidade ou tráfico. "Eles destituem o presidente
e tomam o poder, depois colocam
alguém de confiança. É o que chamam de "arrumar a casa'", disse.
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