São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/AEROPORTO

Federação de pilotos diz que já fazia alerta sobre Congonhas

Problema no aeroporto foi "demonstrado claramente", diz entidade internacional

Entidade diz que alerta autoridades brasileiras há 20 anos sobre riscos de pista curta e ausência de área de segurança no aeroporto


VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há 20 anos, a Ifalpa (Federação das Associações Internacionais de Pilotos de Companhias Aéreas, na sigla em inglês) diz aconselhar as autoridades brasileiras sobre os riscos da pista curta e da falta de uma área de escape no aeroporto de Congonhas. As recomendações nunca foram levadas em conta, diz a Ifalpa. Elas foram referendadas pela Icao (Organização Internacional da Aviação Civil) -órgão regulatório do setor aéreo ligado à ONU (Organização das Nações Unidas). De Londres, o diretor e porta-voz da federação, Gideon Ewers, falou à Folha sobre o acidente com o Airbus-A320 da TAM e analisou as condições de segurança em Congonhas.
"O problema em Congonhas é o fato de não haver áreas de segurança para escapes. E o porquê dessa necessidade foi demonstrado claramente na semana passada", avalia. Leia os principais trechos:

 

FOLHA - Como os pilotos europeus receberam a notícia desse acidente?
GIDEON EWERS -
Obviamente nenhum piloto ficou feliz. A questão é a situação específica de Congonhas, sem pista e área de segurança. Não dá para fugir disso. Sei que há outras questões na aviação brasileira neste momento, mas, deixando isso um pouco de lado, não é um problema apenas do Brasil. [As pistas curtas] São problemas que existem em inúmeros aeroportos de todo o mundo.

FOLHA - Que tipo de recomendações a Ifalpa tem dado a Congonhas nos últimos anos?
EWERS -
Fazemos campanhas incisivas para implantação de várias medidas, e entre elas está a idéia de que as recomendações para pista e área de segurança tornem-se exigências. Ou, se não for possível, que se tenham alternativas que garantam o mesmo nível de segurança. Por exemplo, falamos do Emas [sigla para Engineered Materials Arresting System, um tipo de concreto especial colocado no final da pista que pára a aeronave].

FOLHA - A federação considera Congonhas um aeroporto seguro?
EWERS -
Essa é uma boa pergunta. Qualquer aeroporto sem uma pista longa e sem área de escape ou alternativas que compensem o mesmo nível de segurança é seguro enquanto possa ser. Há certos aeroportos ou áreas que definimos como deficiente ou criticamente deficiente. E basicamente qualquer aeroporto que tenha uma pista extremamente curta nós o definimos assim.

FOLHA - Essa é a situação de Congonhas e do Santos Dumont, no Rio, que tem a pista ainda mais curta?
EWERS -
Não precisamos nos deter ao tamanho da pista e explico o porquê. Há a definição do tamanho mínimo de pista que cada aeronave exige em determinadas condições. Então, embora a pista de Congonhas seja mais curta do que o ideal, os aviões ainda podem operar dentro do mínimo necessário. Há outros elementos, como a situação do aeroporto, a vizinhança, a natureza das aproximações. O comprimento da pista em si não é o único fator.

FOLHA - A proximidade dos edifícios não é insegura para a aviação?
EWERS -
Basicamente o problema em Congonhas é o fato de não haver áreas de segurança para escapes. E o porquê dessa necessidade foi demonstrado claramente na semana passada.

FOLHA - E qual seria essa área?
EWERS -
Uma área segura seria de ao menos 300 metros, mas isso requer um trabalho preciso de engenharia.

FOLHA - O que um piloto pode fazer numa situação crítica como a da semana passada?
EWERS -
É difícil dizer. É como um quebra-cabeça. Temos apenas algumas peças, então não dá para ver a figura completa.

FOLHA - O sr. concorda com a Ifatca (a federação internacional dos controladores) de que é necessária uma intervenção internacional na aviação brasileira?
EWERS -
Eles falam de questões mais amplas. É um ponto de vista. Estamos preocupados em promover o maior nível de segurança. E segurança deve ser aplicada igualmente em todas as partes do mundo.

FOLHA - Há quem peça o fechamento de Congonhas. É o caso?
EWERS -
É um caso a considerar. A investigação tem que considerar esses pontos. Vai levar um certo tempo, e talvez não seja do jeito que os políticos queiram. E essas recomendações podem pedir o fechamento do aeroporto, não sei.


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