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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/AEROPORTO
Federação de pilotos diz que já fazia alerta sobre Congonhas
Problema no aeroporto foi "demonstrado claramente", diz entidade internacional
Entidade diz que alerta autoridades brasileiras há 20 anos sobre riscos de pista curta e ausência de área de segurança no aeroporto
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há 20 anos, a Ifalpa (Federação das Associações Internacionais de Pilotos de Companhias Aéreas, na sigla em inglês) diz aconselhar as autoridades brasileiras sobre os riscos da pista curta e da falta de
uma área de escape no aeroporto de Congonhas.
As recomendações nunca foram levadas em conta, diz a
Ifalpa. Elas foram referendadas
pela Icao (Organização Internacional da Aviação Civil) -órgão regulatório do setor aéreo
ligado à ONU (Organização das
Nações Unidas).
De Londres, o diretor e porta-voz da federação, Gideon
Ewers, falou à Folha sobre o
acidente com o Airbus-A320 da
TAM e analisou as condições
de segurança em Congonhas.
"O problema em Congonhas
é o fato de não haver áreas de
segurança para escapes. E o
porquê dessa necessidade foi
demonstrado claramente na
semana passada", avalia.
Leia os principais trechos:
FOLHA - Como os pilotos europeus
receberam a notícia desse acidente?
GIDEON EWERS - Obviamente nenhum piloto ficou feliz. A questão é a situação específica de
Congonhas, sem pista e área de
segurança. Não dá para fugir
disso. Sei que há outras questões na aviação brasileira neste
momento, mas, deixando isso
um pouco de lado, não é um
problema apenas do Brasil. [As
pistas curtas] São problemas
que existem em inúmeros aeroportos de todo o mundo.
FOLHA - Que tipo de recomendações a Ifalpa tem dado a Congonhas
nos últimos anos?
EWERS - Fazemos campanhas
incisivas para implantação de
várias medidas, e entre elas está a idéia de que as recomendações para pista e área de segurança tornem-se exigências.
Ou, se não for possível, que se
tenham alternativas que garantam o mesmo nível de segurança. Por exemplo, falamos do
Emas [sigla para Engineered
Materials Arresting System,
um tipo de concreto especial
colocado no final da pista que
pára a aeronave].
FOLHA - A federação considera
Congonhas um aeroporto seguro?
EWERS - Essa é uma boa pergunta. Qualquer aeroporto sem
uma pista longa e sem área de
escape ou alternativas que
compensem o mesmo nível de
segurança é seguro enquanto
possa ser. Há certos aeroportos
ou áreas que definimos como
deficiente ou criticamente deficiente. E basicamente qualquer
aeroporto que tenha uma pista
extremamente curta nós o definimos assim.
FOLHA - Essa é a situação de Congonhas e do Santos Dumont, no Rio,
que tem a pista ainda mais curta?
EWERS - Não precisamos nos
deter ao tamanho da pista e explico o porquê. Há a definição
do tamanho mínimo de pista
que cada aeronave exige em determinadas condições. Então,
embora a pista de Congonhas
seja mais curta do que o ideal,
os aviões ainda podem operar
dentro do mínimo necessário.
Há outros elementos, como a
situação do aeroporto, a vizinhança, a natureza das aproximações. O comprimento da
pista em si não é o único fator.
FOLHA - A proximidade dos edifícios não é insegura para a aviação?
EWERS - Basicamente o problema em Congonhas é o fato de
não haver áreas de segurança
para escapes. E o porquê dessa
necessidade foi demonstrado
claramente na semana passada.
FOLHA - E qual seria essa área?
EWERS - Uma área segura seria
de ao menos 300 metros, mas
isso requer um trabalho preciso de engenharia.
FOLHA - O que um piloto pode fazer numa situação crítica como a da
semana passada?
EWERS - É difícil dizer. É como
um quebra-cabeça. Temos apenas algumas peças, então não
dá para ver a figura completa.
FOLHA - O sr. concorda com a Ifatca
(a federação internacional dos controladores) de que é necessária uma
intervenção internacional na aviação brasileira?
EWERS - Eles falam de questões
mais amplas. É um ponto de
vista. Estamos preocupados em
promover o maior nível de segurança. E segurança deve ser
aplicada igualmente em todas
as partes do mundo.
FOLHA - Há quem peça o fechamento de Congonhas. É o caso?
EWERS - É um caso a considerar. A investigação tem que
considerar esses pontos. Vai levar um certo tempo, e talvez
não seja do jeito que os políticos queiram. E essas recomendações podem pedir o fechamento do aeroporto, não sei.
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