São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2000

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SEGURANÇA
Petrelluzzi defende criação de "força-tarefa" nacional com polícias e Judiciário para combater tráfico de drogas
Secretário nega existência de poder paralelo

DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário de Estado da Segurança, Marco Vinicio Petrelluzzi, diz que o cerco da periferia pelo tráfico é mais uma tese que nunca foi provada do que um fato. "Toda vez que tivemos notícia nesse sentido, houve uma ação imediata e enérgica da polícia."
O secretário afirma que apenas duas vezes na sua gestão o tráfico tentou fechar ruas. Semana passada, no Jardim Macedônia (zona sul), e no município de São Bernardo, no início do ano.
"Quando teve o caso de São Bernardo, a imprensa dizia que havia 12 bairros com problemas. Fui lá e constatei que havia uma rua", diz.
Segundo ele, a polícia descobriu durante as investigações que pessoas que vendiam serviços de segurança em São Bernardo encarregaram-se de criar um clima de "histeria" muitos "decibéis" acima dos acontecimentos reais.
"Não dá para isso acontecer sem a polícia saber", diz ele, mesmo considerando a existência de policiais envolvidos com o tráfico.
Petrelluzzi está convencido de que não basta haver esquemas eficazes de segurança: "A população precisar ter sensação de segurança", afirma.
O secretário cita indicadores de violência para reforçar sua tese de que a criminalidade está caindo em São Paulo: o número de homicídios nos três primeiros trimestres deste ano foi menor do que o número de ocorridos no ano passado, no mesmo período.
A única exceção é São Mateus, no extremo leste da cidade.
Segundo ele, a prova de que a secretaria está investindo em prevenção é que um quarto da população prisional está relacionada com o tráfico. No entanto, ele reconhece que aqui, assim como no resto do mundo, a presa mais fácil é o pequeno vendedor, o que ele chama de "sacoleiro da droga".
Petrelluzzi reconhece que a pressão causada pelos traficantes é mais intensa nas áreas mais pobres da cidade, onde, além da violência, há exclusão social.
É também em razão disso que Petrelluzzi conclui que o problema da droga não será eliminado pura e simplesmente por meio de repressão policial.
O secretário defende a criação de uma força-tarefa nacional composta pela Polícia Federal, algumas polícias estaduais e secretarias de Fazenda.
Petrelluzzi também inclui nesse pacote a participação do poder Judiciário e a criação de programas sociais. Além disso, defende mudanças nas campanhas de prevenção, mostrando a diferença entre as drogas e não igualando seu poder de letalidade.
Para ele, esse discurso acaba caindo no descrédito quando o usuário percebe, por exemplo, que fumar maconha não mata.
A elasticidade em relação à aceitação do uso de drogas, para Petrelluzzi, é uma das marcas das comunidades da periferia. Para ele, a entrada do tráfico nessa parcela da população deve-se, em grande parte, ao fato de membros da comunidade usarem droga.
"A comunidade, quando aceita o traficante, é porque consome droga", diz ele.
Um dos empecilhos para uma política mais eficaz de combate ao narcotráfico é a briga da Polícia Federal com outros órgãos pelo controle do combate às drogas. "Estamos brigando dentro das instituições e não estamos botando o bloco na rua. Então a gente vai fazendo aquilo que dá para fazer", diz Petrelluzzi. (GABRIELA ATHIAS E MARIO CESAR CARVALHO)


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