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VIOLÊNCIA
Integrantes de quadrilhas chegam a estudar administração de empresas para aumentar eficiência do comércio de drogas
Centros comunitários são reféns do tráfico
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Traficantes de São Paulo estão
fazendo cursos curtos de administração de empresas com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao
Trabalhador), do Ministério do
Trabalho. Esses programas de capacitação são feitos em centros
comunitários da periferia.
"Não temos como impedi-los
de fazer o curso", dizem as coordenadoras de um desses centros,
que não podem se identificar por
temer represálias. Segundo uma
delas, os líderes do tráfico mandam seus "funcionários" para ter
aulas e aumentar o nível de eficiência nos "negócios".
O fato de líderes comunitários
conhecerem os chefes do tráfico e
acolherem seus funcionários é
uma mostra do poder dos criminosos. Para funcionar nos extremos sul e leste de São Paulo, os
centros comunitários precisam
fazer acordos com o tráfico.
A Folha conversou com representantes de oito centros comunitários considerados grandes
(atendem entre 10 mil e 20 mil
pessoas por mês) em diferentes
distritos das zonas sul e leste. Todos os líderes e funcionários dessas instituições relataram ter feito
algum tipo de pacto com traficantes para conseguir trabalhar.
Os centros visitados pela reportagem trabalham com programas
para jovens, creches, atividades
para a terceira idade e projetos de
geração de renda.
"É um contra-senso, porque a
nossa luta é pela vida e eles puxam
nossos jovens literalmente para a
morte", diz uma coordenadora da
zona leste. Mas, segundo ela, não
há outra forma de os centros funcionarem. "Aqui não adianta chamar a polícia. Quem manda é o
tráfico organizado."
O advogado Edison Farah,
coordenador do Conseg (Conselho de Segurança Comunitária)
da Consolação, no centro de São
Paulo, diz que o controle social
acaba nas mãos do crime organizado nos bairros onde a presença
do poder público é pequena.
As bases do acordo feito entre
os centros comunitários e o crime
são mais ou menos as mesmas: a
comunidade se compromete a
não lutar pela implantação de bases de segurança comunitária e,
principalmente, a fechar os olhos
para as atividades do tráfico.
Além disso, as campanhas contra a violência (como passeatas e
manifestações) não podem fazer
referências à venda de drogas.
Com isso, filhos dos traficantes
acabam fazendo parte das atividades dos centros comunitários, para onde são levados pelos próprios pais para "aprender alguma
coisa e virar gente", segundo um
líder comunitário, citando textualmente a fala de um dos maiores traficantes da cidade.
Nas proximidades da favela
Santa Madalena, em Sapopemba,
os líderes conseguiram avançar
nas negociações: os monitores
dos programas voltados para a juventude não tentam "conquistar"
os adolescentes que trabalham
para o tráfico. No entanto, se algum deles desejar abandonar a
venda de drogas, e não tiver dívidas, tem o aval dos chefões.
Na média, o salários dos jovens
que vendem drogas, os "aviões", é
de R$ 150 mensais. Eles recebem
armas e passam a ter status entre a
comunidade adolescente.
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