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Creche vira local de venda de drogas e é destruída
DA REPORTAGEM LOCAL
Na Vila Aimoré, extremo leste
de São Paulo, quando as crianças
dizem que vão brincar na creche
os pais entram em pânico. A situação inusitada tem explicação:
o tráfico tomou conta do prédio
onde funcionava a creche local.
A Creche Municipal da Vila Aimoré é o retrato da violência na
periferia da capital. Há cerca de
seis anos, o prédio alagou durante
as enchentes que ocorrem no
bairro na época do verão.
A creche foi fechada pela prefeitura e, segundo os moradores,
passou a funcionar como ponto-de-venda de drogas e esconderijo
de carros roubados. Vizinhos da
antiga creche contam que, para
evitar que a prefeitura reabrisse a
creche, usuários de entorpecentes
e "aviões" (vendedores de droga)
começaram a destruir o prédio.
As fiações elétricas, louças de
banheiro e cozinha, além dos armários, foram saqueados. Ficou
apenas o esqueleto do prédio
abrigando o crime.
Famílias moradoras do entorno
da creche decidiram o seguinte: se
o prédio não é adequado para
abrigar uma creche, é ainda menos propício para virar esconderijo de traficante.
Durante vários meses, pais de
família, em sigilo, ajudaram a destruir o prédio, derrubando teto e
paredes para tentar conter a violência naquele quarteirão. Hoje a
creche parece um cenário de
guerra. Um prédio sem teto e com
paredes semidestruídas.
"Eu agradeço pela destruição
desse prédio. Teria sido muito
pior ter deixado ele de pé, abrigando esse monte de desocupados", diz F.A.G., moradora do
bairro.
As crianças que moram nas
duas ruas mais próximas da creche passam o dia sendo vigiadas
pelos pais para não sair de casa. O
problema é que os escombros são
o único lugar mais ou menos interessante para a criançada, que
costuma se divertir subindo e descendo nas ruínas.
"Aqui durante o dia tem gente
fumando maconha e à noite tem
gente vendendo tudo", diz o morador A.O.
A luta dos moradores, diz a líder
comunitária Risomar Silva de Oliveira, a Dora, é pela construção de
uma escola de educação infantil e
de um salão para atender as crianças. Dora diz que o centro poderia
garantir a alimentação e a higiene
das crianças, mas hoje não há onde atendê-las.
Nos últimos seis meses, cinco
mulheres tiveram os filhos pequenos recolhidos pela Justiça por
falta de condições de criá-los. "Se
essas crianças tivessem um lugar
seguro para passar o dia, não precisariam ter sido afastadas das
mães", diz Dora.
A situação dessa creche é extrema, mas a realidade não é muito
diferente em escolas localizadas
no entorno de pontos-de-venda
de drogas. Grupos rivais de traficantes já trocaram tiros na porta
da Escola Municipal Arlindo Caetano Filho, em Sapopemba, zona
leste da cidade.
Medo
Líderes do bairro contam que
traficantes mandam recados para
os diretores dessas e de outras escolas para que dispensem os alunos mais cedo.
"Os alunos ficam assustados e
os professores não querem trabalhar nessas áreas de risco", diz a
coordenadora de um centro comunitário.
A escola estadual do Jardim
Iguatemi chegou a fechar o turno
da noite por dois dias, em outubro, pela mesma razão.
A Escola Estadual Ermelino
Matarazzo, após a chacina ocorrida em agosto no Jardim Verona,
teve de dispensar os alunos da
noite uma hora e meia mais cedo
para que eles conseguissem chegar em casa em um horário considerado relativamente seguro.
As diretoras dessas escolas costumam negar tudo. Dizem apenas
que os alunos são liberados mais
cedo porque os pais vêm pegá-los
antes da hora.
Muro
A coordenadora do Conseg
(Conselho de Segurança) de
Guaianazes, Ruth Pereira Karbstein, conta que a Escola Municipal
Arthur Neiva encontrou uma solução criativa para abrir a quadra
de esportes para a comunidade e,
ao mesmo tempo, preservar sua
segurança: murou o local, isolando a sede da escola. "É uma forma
de abrir a escola sem se envolver
em confusão", diz Ruth.
O coordenador do Conseg de
Cidade Tiradentes (zona leste),
Antônio Lopes de Souza, cujo antecessor foi assassinado, teve a seguinte idéia para fazer as denúncias da população chegarem até a
polícia sem correr risco de vida.
Na última quinta-feira do mês,
quando o conselho se reúne, ele
coloca uma urna à disposição da
população. As pessoas depositam
denúncias, geralmente anônimas,
na urna. Esse material é recolhido
diretamente pela polícia, sem passar pelas mãos dos líderes comunitários.
(GA)
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