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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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VIOLÊNCIA

Rabino, que havia apoiado medida no sábado, disse que teve reação emocional

Sobel recua e critica pena de morte

DA REPORTAGEM LOCAL

O rabino Henry Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista, disse ontem ser contra a pena de morte, contrariando declaração dada na semana passada, na qual defendeu a medida em casos como o assassinato de Liana Friedenbach, 16, e Felipe Caffé, 19, em Embu-Guaçu (Grande SP) -um menor de 16 anos é acusado de ser o mentor.
"Foi uma reação emocional. Reagi como pai, cidadão, indivíduo", afirmou o rabino ontem, durante o 2º Congresso Brasileiro do Voluntariado, em São Paulo.
Sobel disse que celebrou o casamento dos pais de Liana e o Bat-Mitsvá da jovem (cerimônia de maturidade religiosa das meninas judias, aos 12 anos). Ele também tem uma filha de 16 anos e, há duas semanas, perdeu o pai, na França -a barba comprida que exibe ainda é sinal do luto. A soma desses fatores, segundo ele, contribuíram para a sobreposição do emocional na discussão.
No sábado, em ato de amigos e parentes dos jovens assassinados, Sobel disse (como cidadão, não como rabino, segundo ele) ser favorável à pena de morte em casos excepcionais e que "o judaísmo condena categoricamente a pena de morte, mas, como pai, defendo a pena de morte em casos excepcionais como o de Liana e Felipe".
O presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo, Jayme Blay, havia dito que atitudes como a de Sobel eram "excrescência". "Na hora de intensa emoção, fiz a declaração. Não estou arrependido, era o que sentia. Quero que a sociedade compreenda minha revolta", disse Sobel, que também disse que prioriza os direitos das "pessoas de bem, vítimas de criminosos".

Hebe Camargo
A apresentadora Hebe Camargo, que havia dito na semana passada ter vontade de matar o menor acusado do crime, pediu anteontem desculpas "aos sofridos pais" do adolescente preso. "Se realmente me excedi, peço desculpas", disse a apresentadora. "Mas minha indignação continua aqui dentro, porque sou mãe."
No último dia 17, ela havia dito que, se fosse entrevistar o adolescente, iria armada e faria ele virar "linguiça". Hebe entrevistava o pai de Liana, Ari Friedenbach, e a mãe de Felipe, Lenice Caffé.
A fita com as declarações foi entregue anteontem ao Ministério Público do Estado de São Paulo, que ainda não se pronunciou.
A criadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, disse ontem ser contra a pena de morte e a redução da maioridade penal.
"Devem mudar os três anos de pena máxima, muitos jovens não se recuperaram [nesse período]. Já penas leves e moderadas deveriam ser tratadas na comunidade, com atendimento multiprofissional. Não isolado na penitenciária, uma escola de violência", disse.


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