São Paulo, terça-feira, 27 de fevereiro de 2001

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SALVADOR

Faixa do Mudança do Garcia também cita a ação do PCC (Primeiro Comando da Capital) nos presídios paulistas

Bloco satiriza disputa entre ACM e FHC

Juca Varella/Folha Imagem
Os cerca de 10 mil integrantes do afoxé Filhos de Gandhy iniciam o desfile, ontem à tarde, no circuito Barra-Ondina, em Salvador


MARIANA VIVEIROS
ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR

"ACM, a vaca louca do Congresso", "O cabeça branca esqueceu: quem com muitas denúncias bole, leva uma na cabeça", "Jader ganhou, Aécio assumiu, ACM caiu", "FHC trocou o acarajé pelo pato no tucupi".
O rompimento do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) com o presidente Fernando Henrique Cardoso foi o principal alvo do Mudança do Garcia, bloco que desfilou ontem no Campo Grande (centro de Salvador).
A irreverência e a "invasão" são tradições do bloco, que sai há 51 anos no Carnaval. Apesar de não constar da programação oficial da Emtursa (órgão de turismo da prefeitura que organiza a festa) e de não ter seu desfile transmitido pelas emissoras de TV, a Mudança "fura a fila" dos blocos de trio e entra à força na passarela do Campo Grande.
Segundo um dos seguranças do portão que permite o acesso das entidades ao local, e que preferiu não se identificar, não há como parar a "muvuca".
Depois de tantos cumprimentos, agradecimentos e manifestações de apoio, as autoridades do camarote oficial têm de ouvir as reclamações, que não se restringem à política baiana.
A violência da Polícia Militar nas comemorações dos 500 anos do Brasil, o caso do TRT de São Paulo, a disputa comercial entre Brasil e Canadá e a ineficiência dos políticos brasileiros também foram alvos de críticas.
"A organização dos presídios brasileiros é lenha (gíria baiana, que significa muito boa). Muitos de nossos políticos poderiam aprender com eles", dizia uma das faixas, fazendo alusão ao PCC (Primeiro Comando da Capital), organização criminosa que age nos presídios paulistas.
Quando começou, porém, a Mudança não tinha cunho político. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, músicos da PM e moradores do bairro do Garcia (próximo ao centro de Salvador) fundaram um bloco chamado Arranca Tocos (alusão ao barro e aos tocos de madeira do local).
Em 1950, a entidade passou a se chamar Faxina do Garcia, porque os integrantes desfilavam com baldes d'água, vassouras e panos, lavando as calçadas das casas. Só nove anos depois, o nome Mudança do Garcia foi adotado. Hoje o bloco reúne diversos sindicatos, como o dos professores da Universidade Federal da Bahia (UFBa) e o da Polícia Civil.
As frases de críticas são colhidas nos meses que antecedem o Carnaval e são pintadas em cartazes carregados por 13 carroças.

Gandhy
O afoxé Filhos de Gandhy desfilou a partir das 17h de ontem no circuito Dodô (Barra-Ondina). Durante o desfile, seus cerca de 10 mil integrantes, todos homens, formaram o tradicional "tapete branco" na avenida Oceânica.
Anteontem à noite, o afoxé, criado em 1949 por estivadores do porto de Salvador inspirados pelos ensinamentos do líder indiano Mahatma Gandhi, fez a sua primeira saída neste Carnaval, nas ruas do centro da cidade.
O Filhos de Gandhy tem entre seus integrantes o cantor e compositor Gilberto Gil, que já foi vice-presidente da entidade.
Vestidos de branco e azul, os membros do afoxé desfilam borrifando alfazema -que, acreditam, afasta energias negativas- e são assediados por baianos e turistas em busca de um dos colares de contas que fazem parte da roupa do afoxé.

Encontro
Depois de os Doces Bárbaros (Caetano, Gal, Gil e Bethânia) terem feito, no Campo Grande, uma homenagem a Dorival Caymmi, mais um encontro marcou a passagem dos blocos, dessa vez no circuito Dodô.
Daniela Mercury, em cima do trio do seu bloco, o Crocodilo, e Gal Costa, na sacada do camarote de Daniela, cantaram juntas na madrugada de ontem.


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