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O PODER DO CRIME
Serão construídos anexos em presídios para atender demanda de 3.000 que têm direito ao regime semi-aberto
SP improvisa para reduzir pressão de presos
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo de São Paulo decidiu
improvisar para diminuir a pressão dos presos sobre os diretores
de penitenciárias em razão da falta de vagas nos presídios semi-abertos -unidade que, por lei, o
condenado com bom comportamento deveria estar após cumprir
parte da pena no regime fechado.
O PCC (Primeiro Comando da
Capital), a facção que parou 29
prisões em São Paulo há nove
dias, tem usado de falhas como
essas para crescer no sistema prisional, apresentando-se como
""sindicato" em defesa dos encarcerados, que somam hoje 93 mil.
A Secretaria da Administração
Penitenciária licitou recentemente 18 alas, com 108 vagas cada uma
delas, a serem construídas como
anexo de penitenciárias existentes
no Estado -a maioria no interior. Elas devem estar prontas,
gradativamente, em cinco meses.
""Quando sair uma ordem de
progressão do juiz, tiramos o preso de imediato do fechado e o colocamos nessas alas, até a vaga do
semi-aberto ser liberada. Assim,
reduzimos a tensão com os detentos e ainda paramos de desrespeitar a lei (Execuções Penais)", disse
ontem Sergio Ricardo Salvador,
coordenador do Coesp (Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários de São Paulo).
Calcula-se que existam hoje cerca de 3.000 condenados com direito ao semi-aberto no Estado,
segundo o próprio governo, mas
que continuam detidos de modo
irregular em presídios e cadeias.
Se tivessem a vaga, em vez de ficarem atrás das grades, eles poderiam trabalhar e teriam como descontar três dias trabalhados por
um da pena (remissão).
O sistema prisional brasileiro é
progressivo: o condenado por crime grave passa um período no regime fechado, depois pelo semi-aberto e chega ao aberto. O legislador entendeu, ao criar a Lei de
Execuções (84), que essas fases facilitariam a volta dele à sociedade.
O problema é que a lei nunca
chegou a ser cumprida na sua integridade, como é o caso da falta
de vagas para o semi-aberto, segundo o advogado Humberto
Luiz Borges D'Urso, 36, vice-presidente do Conselho de Penitenciário do Estado de São Paulo. ""É
claro que esse é um ponto de tensão nas prisões", afirmou.
A idéia com as ""alas de progressão", a serem criadas, é não misturar os dois tipos de presos -do
fechado e do semi-aberto-, quebrando a possibilidade de motins
para reivindicar esse benefício.
Os condenados dessas alas vão
cuidar da manutenção das prisões, segundo a Coesp, mas também podem ser aproveitados em
outras atividades, como em parcerias com os municípios.
Cada uma das 18 alas deve custar cerca de R$ 300 mil. Juntas,
elas representam em valor uma
unidade de semi-aberto, de acordo com o governo. Franco da Rocha, Araraquara e Ribeirão Preto
e a capital estão na lista de locais
que terão esse tipo de anexo.
Paralelo a isso, o governo estuda
a construção de mais seis presídios de semi-aberto no Estado.
São Paulo tem hoje 12 unidades
desse tipo, com 12 mil vagas no
total. O ideal, segundo a Coesp,
seria ter um para cada um dos 46
presídios fechados.
O sistema prisional no país está
falido e, por isso, surgem facções
como o PCC, segundo a professora de processo penal da USP (Universidade de São Paulo), Maria
Thereza Rocha de Assis Moura,
que participa da revisão da Lei de
Execuções, em Brasília. ""O desrespeito à Lei de Execuções é apenas um dos elementos desse problema complexo."
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