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HABITAÇÃO
Segundo Ministério Público, obras do conjunto Nova Sepetiba 2 estão provocando danos ambientais na zona oeste do Rio
Projeto de Garotinho é alvo da Promotoria
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Mais um dos projetos sociais do
governador Anthony Garotinho
(PSB) vira alvo da Justiça: o Ministério Público Estadual entrou
ontem com uma ação civil pública na tentativa de impedir a construção do conjunto habitacional
Nova Sepetiba 2, em Guaratiba
(zona oeste).
O Ministério Público argumenta que o projeto está causando danos ambientais, pois foram derrubados ou aterrados trechos de
mata atlântica, brejos, manguezais e nascentes de rios.
É a repetição da polêmica e dos
erros do Nova Sepetiba 1, o megaprojeto habitacional do governo
Garotinho, com 10 mil casas, em
Sepetiba, também na zona oeste.
Bandeira de Garotinho na campanha presidencial e propagandeado como o maior conjunto habitacional da América Latina, o
Nova Sepetiba 1 foi sucessivamente embargado e questionado
na Justiça por falta de licença ambiental. Até hoje não tem licença
da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Versão menor, o Nova Sepetiba
2 segue no mesmo caminho: a
obra está embargada pela Secretaria Municipal de Urbanismo. A
prefeitura alega que a área é ru-
ral e não pode abrigar conjuntos
habitacionais.
Ontem, a Folha esteve no Nova
Sepetiba 2 e verificou que, apesar
do embargo, a obra continua em
ritmo acelerado. Noventa casas já
foram erguidas. Cerca de 20 máquinas trabalham nos serviços de
terraplenagem.
O relatório dos peritos consultores do Ministério Público, ao
qual a Folha teve acesso, fala da
existência na área de animais
ameaçados de extinção, como a
lontra e os pássaros coleiro-do-brejo e colhereiro. Há também no
local capivaras, guaxinins, tatus e
tamanduás.
Moradores da praia da Brisa, vizinha ao conjunto, já viram pelas
ruas capivaras que, assustadas
com o barulho das máquinas, fogem sem destino. "As capivaras
agora vivem por aqui, porque a
mata está sendo destruída", disse
a moradora Evaneide Almeida.
"Aqui o pessoal até caçava tatu.
Era mato que não acabava mais",
contou José Heleno de Sousa, ajudante de obra desempregado e na
fila à espera de trabalho em Nova
Sepetiba 2.
Originalmente, estavam previstas para o Nova Sepetiba 2 um total de 5.800 casas em área de uma
antiga fazenda com 2 milhões de
metros quadrados.
Por pressões do Ministério Público e dos moradores, o projeto
foi sendo reduzido. O Ministério
Público chegou a obter liminar na
Justiça suspendendo a obra. Depois, a Justiça concordou com a
manutenção do projeto -reduzido então a 868 casas, com a manutenção das áreas verdes ao redor das residências.
"Mesmo assim, o projeto é irregular. De acordo com o plano diretor da cidade, a área é de ocupação restrita e interesse agrícola.
Não pode ser utilizada para a
construção de conjuntos habitacionais. Além do mais, como preservar a mata ao redor se no centro haverá um conjunto com quase mil casas?", questionou o promotor Eduardo Santos de Carvalho, um dos responsáveis pela
área ambiental.
O promotor lembra também
que a área é sujeita a alagamentos,
pois 65% dela fica a menos de cinco metros acima do nível do mar.
A região, disse Carvalho, poderia ser dividida em lotes de 10 mil
metros quadrados ou de 360 metros quadrados. No Nova Sepetiba 2, os lotes são muito menores:
128 metros quadrados.
O promotor afirma que, antes
de construir Nova Sepetiba 2, o
governo teria de resolver todos os
problemas do Nova Sepetiba 1.
"Queremos a anulação da licença
ambiental já concedida e a recuperação dos danos causados",
afirmou Carvalho.
Protestos
Com 87 mil habitantes, Guaratiba é uma área de sítios onde pequenos e médios produtores rurais mantêm hortas, ranários e
negócios do gênero.
Na chegada ao conjunto, pela
estrada de Pedra de Guaratiba, várias faixas já mostram a insatisfação dos moradores com o novo
conjunto. "Diga Não à Nova Sepetiba", afirma uma; "Trampolim
eleitoral", acusa outra.
"Nossa rua não tem água nem
esgoto.O governo não está dando
conta das necessidades daqui e vai
trazer mais gente? Esse conjunto
vai ser um depósito de pessoas
criado com fins eleitorais", disse
Paula Ribeiro, uma das criadoras
do movimento SOS Guaratiba.
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