São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2001

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VIOLÊNCIA

Denunciada pela filha, dona de sítio é suspeita de usar crianças para tráfico ou em rituais religiosos; ela nega acusações

Polícia acha ossadas de bebê em sítio do MA

JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA

Três ossadas de bebê foram encontradas no terreno de um sítio em Caxias (360 km de São Luís, MA), na última sexta-feira. A lavradora Graciete Silva, 42, proprietária do local, está presa preventivamente. A Polícia Civil investiga hipóteses de tráfico ou uso de crianças em rituais religiosos.
A lavradora está detida na Delegacia da Mulher de Caxias para evitar, segundo a Justiça, acuamento de testemunhas ou um possível linchamento.
As denúncias contra Graciete, que nega as acusações, começaram na semana passada. Sua filha F.S., 17, procurou a Promotoria da Infância e da Juventude do município para denunciar maus-tratos.
"A menina estava muito machucada. Exames comprovaram que eram ferimentos provocados por fios elétricos e palmatória", afirmou Lítia Cavalcanti, promotora da Infância e da Juventude.
A Promotoria conseguiu um mandado de busca e apreensão na casa da lavradora. "Em seu depoimento, a menina falou que a mãe teria matado crianças. Era preciso averiguar", disse Lítia.
Na busca feita no sítio, a polícia encontrou material que seria para realizar abortos, seringas, fotos de 21 crianças e objetos religiosos. No terreno, três ossadas de bebê foram descobertas. Os ossos -enterrados superficialmente- não estavam em caixões.
"Estamos atrás da identidade das crianças das fotos. Testemunhas estão sendo ouvidas. Foi presa uma mulher que se disse ajudante de Graciete Silva em rituais religiosos", declarou o delegado Jair Lima Paiva.
Cinco crianças -duas de 2 anos e as outras de 8, 10 e 12 anos- e dois adolescentes -ambos de 17 anos- moravam no sítio. Segundo a polícia, só F.S. seria filha da mulher. Segundo a Promotoria, as crianças e os adolescentes apresentam lesões pelos corpos.
Em entrevista à Agência Folha, Graciete disse que era parteira. "Eu fazia parto para mulheres carentes. Acontece que uma criança chegou morta e outras duas morreram após o parto aqui em casa. Resolvi enterrar no sítio mesmo, não vi mal nenhum nisso."
A lavradora afirmou que crianças eram deixadas na porta de sua casa e que passava a criá-las. Sobre as 21 fotos encontradas no sítio, disse: "São afilhados ou filhos que passaram pela minha casa".
"Não fazia abortos, nem magia negra, só ajudava necessitados."
A promotora pretende denunciar Graciete Silva por homicídio qualificado, tortura, ocultação de cadáver e maus-tratos a crianças.



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