São Paulo, sábado, 27 de abril de 2002

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DEPOIMENTOS

"Eu não queria nem ter visto aquilo"

"Na primeira vez eu não pensei bem no que estava fazendo. Fui convidada pela A.V. para vender revista, mas depois as meninas me explicaram o que a gente iria fazer. Elas me disseram que quando eu chegasse lá [na casa do Lelo] não era para ter vergonha, medo. As meninas não ficavam com tanto medo... Ele também fica nu. Quando a gente chega na casa, vai tomar banho com ele, depois vai para o quarto e para a cama para chupar. Fui a última vez há uns seis ou sete dias. Mas já vou lá há uns três meses. Tenho vontade de deixar de ir, mas tenho medo."(T.,10)
"Quando eu ficava brincando com T. e A. elas me chamaram para ir lá [na casa do Lelo], mas disseram para eu não contar para ninguém. Eu disse que estava certo, mas, quando voltei, contei para a minha mãe e ela ficou muito triste e doente. Minha mãe contou para a Pastoral [do Menor]. No começo fiquei meio triste porque eu queria ir [ à casa do Lelo] para ganhar dinheiro, mas minha mãe não queria que eu fosse. No fim minha mãe deixou eu ir só para eu voltar e contar a ela como era. Quando a gente chegou lá [ da primeira vez] a gente comeu, mandaram a gente tirar a roupa, aí ele disse: quem vai começar hoje? Ele chamava T., T., e ela foi. Quando disseram agora é tu, N., eu disse que não queria ir. As meninas insistiram, insistiram e ele disse: deixa, ela faz o que quiser. Ele deixou eu só filmar e tirar foto. Ele mandava dar tapinha no negócio dele. Dei uma vez e corri com medo. Ele disse que não era pra gente ter medo, que a gente era como irmãzinha. Uma das meninas ficou com raiva de mim porque eu não quis fazer. Quando a gente acabava de fazer tudo ele levava a gente pra praia e tirava muita foto. Depois deixava a gente no ônibus, ia pro trabalho e a gente vinha pra casa.Quando eu cheguei em casa [depois da primeira vez] minha mãe perguntou onde eu estava. Fiquei nervosa e contei tudo. O nome dele é Marcelo é o apelido é Lelo". (N.D., 10)
"Eu saí de casa [da primeira vez] para vender revista, mas a A.V. me levou para a casa de um homem que ela disse que era amigo dela. Quando chegou lá ele mandou a gente tirar a roupa e eu disse que não iria tirar. Ela [A.V.] me disse: agora tu estás aqui, vai ter de tirar. Eu tirei e fiquei sentada. Ela disse: vem aqui que é tua vez. Eu não queria nem ter visto aquilo. Ela me disse que se eu não fizesse não receberia dinheiro para voltar para casa. Quando terminou ele nos deixou na praia e de lá levou para pegar o ônibus e voltar para casa. Meus pais ficaram irritados [por causa da hora] e bateram em mim, mas eu continuei indo lá. Já vou há um ano. A gente sai daqui 10h30 e chega às 15h. A gente esconde o dinheiro da mãe. Eu já tive vontade de comprar coisas pra casa com esse dinheiro, mas não tenho como explicar onde consegui. (A.,11)



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