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GLS
Vila Madalena, Pinheiros e Jardins são as regiões preferidas dos gays da cidade; moradores heterossexuais, em alguns casos, reclamam
Bairros de São Paulo atraem vizinhança homossexual
CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL
São Paulo, enfim, virou cidade
grande: como Nova York, tem
suas vizinhanças gays. Cá, como
lá, dividida em grupos. Pinheiros
e Vila Madalena (como o East Village) para os alternativos; o centro para os mais velhos (como o
Greenwich Village); e os Jardins
(como Chelsea ou o SoHo) para
"malhados", clubbers e elegantes.
Entre as três regiões, os Jardins,
um dos bairros mais nobres da cidade, firma-se como a de maior
concentração do chamado público GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) da capital paulista. Lá está
o "quarteirão gay" de São Paulo,
onde bares, discotecas e lojas
atraem dia e noite homossexuais
para a região, sobretudo homens.
São pelo menos 20 bares, cafés,
restaurantes, discotecas e até uma
livraria, concentrados entre a rua
da Consolação e a alameda Lorena (veja mapa). "É um filão que só
está sendo descoberto. O consumidor ainda está muito "no armário". Quando pede pela internet,
sua principal preocupação ainda
é o pacote, como se a gente fosse
mandar algo cor-de-rosa e voando", diz Sérgio Miguez, proprietário da Livraria Futuro Infinito, especializada em sexualidade e com
uma farta seção de vídeos e livros
voltados para os gays e lésbicas.
Durante o dia, além da livraria,
que funciona até a meia-noite, o
movimento acontece nas lojas da
região. Para almoçar, um dos
"points" é o charmoso restaurante Namesa, do chef Alex Atala.
A primeira parada para a noite é
no Fran's Café, na rua Haddock
Lobo, quase esquina com a avenida Paulista. O café é o local preferido para os "blind dates", ou encontro às escuras, marcados pela
internet entre pretendentes que
ainda não se conhecem pessoalmente. Para jantar, o Ritz.
Mais tarde, o Gourmet ou o
Allegro. E para esticar, uma das
muitas casas noturnas. Movimento maior ainda está no meio da
rua, em frente aos bares. "Fica do
lado de fora quem está a fim de
paquerar. Quem está acompanhado quer uma mesa e quem está só, fica no balcão, puxando papo com a gente", explica Adriana
Siqueira, que, com a irmã Daniela, abriu o Gourmet há 11 anos.
O movimento gay nos Jardins,
segundo frequentadores mais antigos, remonta, porém, aos anos
60. Foi somente no final da década passada que chegou ao agito
atual. Mas por que os Jardins?
"Os Jardins passam essa coisa
sofisticada que gay gosta", diz
Marcelo Correia, a drag queen
Milanta Plus, um dos divulgadores das boates das redondezas.
Nas noites de quintas e sextas,
vestido como uma personagem
diferente, com saltos plataforma e
muita maquiagem, Milanta é um
dos gays que, por sua visibilidade,
começam a chamar atenção da vizinhança heterossexual.
"De "quarteirão gay" virou
"quarteirão da bagunça'", critica a
presidente da Associação dos Moradores do bairro, Célia Marcondes, que está recolhendo assinaturas pedindo o fechamento dos estabelecimentos. "O problema não
é ser gay, mas tem uns que tiram a
roupa, ficam desfilando em peças
íntimas", diz Célia, que afirma ter
mais de 400 assinaturas.
"Há uns exageros, sim", reconhece o proprietário do Allegro,
Luiz Paulo Marinho. "Eu recebo
travestis, mas às vezes tenho que
dizer: "vai botar uma roupinha"."
Tem gente que não se importa.
Na Futuro Infinito, por exemplo,
quem atende aos fregueses pela
manhã é a tia de Miguez, Nevart
Berberian, uma psicóloga viúva
de 72 anos. "As pessoas passam e
se surpreendem ao ver uma senhora de cabelo branco na livraria", diz. "Mas ser gay é natural."
Entre os proprietários, há quem
não admita o rótulo de "gay" para
seu estabelecimento, e prefira assumir o de "moderno". "Uma das
principais características do "Namesa" é ser moderno. Por isso se
enquadra bem entre os gays, mas
a mistura é a graça do restaurante", diz o chef Alex Atala.
Outro restaurante, o Ritz, cujas
mesas, principalmente à noite,
costumam mostrar vários casais
homossexuais, tampouco quer se
enquadrar. Ouvida pela Folha, a
supervisora do restaurante, que
não quis dar entrevista, também
usou o adjetivo "moderno" para
se referir ao local.
No entanto, a tendência é ascendente. "O órgão oficial de turismo
da cidade tem interesse em apoiar
e desenvolver o segmento", afirma Magda Ventura, coordenadora de produtos e promoção turística do Anhembi.
Numa cidade onde a prefeita é
autora do projeto de parceria entre homossexuais, os abaixo-assinados contra o "quarteirão gay"
não parecem ter muito futuro.
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