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PRÁTICA DE RISCO
Após usar Cytotec em um aborto malsucedido, garota foi internada
Estudante teve infecção uterina
DA REPORTAGEM LOCAL
Em abril, a estudante paulistana Letícia (nome fictício), 18,
entrou para as estatísticas das
cerca de 244 mil mulheres submetidas a curetagem na rede
pública de saúde por aborto inseguro por ano.
Mãe de um bebê de um ano,
ela usou 19 comprimidos de
Cytotec (remédio para úlcera
que causa contração uterina)
para provocar um aborto.
Após introduzi-los na vagina,
apresentou um pouco de sangramento, mas não houve a expulsão do embrião. Letícia adquiriu uma grave infecção uterina e foi internada no Hospital
do Jabaquara (zona sul de São
Paulo). Após a aspiração do embrião (curetagem), ficou internada durante quatro dias.
"Quase perdi o útero, mas não
me arrependo. Não tinha a menor condição de criar outro filho", diz Letícia, que estuda à
noite e trabalha durante o dia
em uma lanchonete.
Internações como as de Letícia custaram ao SUS cerca de R$
36 milhões no ano passado só
com o procedimento da curetagem. A maioria das pacientes é
formada por mulheres pobres
que fizeram aborto inseguro e
tiveram complicações.
Dossiê da Rede Feminista de
Saúde -entidade que reúne
mais de 200 organizações de
mulheres- e que foi entregue à
comissão tripartite mostra que
o Brasil gasta por ano cerca de
US$ 10 milhões no atendimento
das complicações do aborto.
No dossiê, foram acompanhados casos de mulheres que praticaram aborto ou sofreram
abortos espontâneos e que passaram por curetagens em hospitais públicos, entre 1999 e 2002.
Também foram mapeadas as
mortes por abortamentos.
Elaborado a partir de consulta
no DataSus (Departamento de
informática do Sistema Único
de Saúde), o documento mostra
que os gastos com as internações por aborto na rede pública
de saúde estão subdimensionados porque não são computados os custos com internações
prolongadas ou com as mulheres que necessitaram de UTI.
Na avaliação de Fátima de Oliveira, secretária-executiva da
Rede Feminista de Saúde, a legalização do aborto, além de poder salvar mais vidas, representará uma economia para o país.
As maiores taxas de curetagem estão no Nordeste (5,5 a cada 1.000 mulheres), no Norte
(4,48) e no Sudeste (4,13). A menor taxa está no Sul (2,65). Não
estão computados os atendimentos na rede privada.
A estimativa é que os abortos
clandestinos ultrapassem 1 milhão por ano no Brasil.
(CC)
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