São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 2005

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PRÁTICA DE RISCO

Após usar Cytotec em um aborto malsucedido, garota foi internada

Estudante teve infecção uterina

DA REPORTAGEM LOCAL

Em abril, a estudante paulistana Letícia (nome fictício), 18, entrou para as estatísticas das cerca de 244 mil mulheres submetidas a curetagem na rede pública de saúde por aborto inseguro por ano.
Mãe de um bebê de um ano, ela usou 19 comprimidos de Cytotec (remédio para úlcera que causa contração uterina) para provocar um aborto.
Após introduzi-los na vagina, apresentou um pouco de sangramento, mas não houve a expulsão do embrião. Letícia adquiriu uma grave infecção uterina e foi internada no Hospital do Jabaquara (zona sul de São Paulo). Após a aspiração do embrião (curetagem), ficou internada durante quatro dias.
"Quase perdi o útero, mas não me arrependo. Não tinha a menor condição de criar outro filho", diz Letícia, que estuda à noite e trabalha durante o dia em uma lanchonete.
Internações como as de Letícia custaram ao SUS cerca de R$ 36 milhões no ano passado só com o procedimento da curetagem. A maioria das pacientes é formada por mulheres pobres que fizeram aborto inseguro e tiveram complicações.
Dossiê da Rede Feminista de Saúde -entidade que reúne mais de 200 organizações de mulheres- e que foi entregue à comissão tripartite mostra que o Brasil gasta por ano cerca de US$ 10 milhões no atendimento das complicações do aborto.
No dossiê, foram acompanhados casos de mulheres que praticaram aborto ou sofreram abortos espontâneos e que passaram por curetagens em hospitais públicos, entre 1999 e 2002. Também foram mapeadas as mortes por abortamentos.
Elaborado a partir de consulta no DataSus (Departamento de informática do Sistema Único de Saúde), o documento mostra que os gastos com as internações por aborto na rede pública de saúde estão subdimensionados porque não são computados os custos com internações prolongadas ou com as mulheres que necessitaram de UTI.
Na avaliação de Fátima de Oliveira, secretária-executiva da Rede Feminista de Saúde, a legalização do aborto, além de poder salvar mais vidas, representará uma economia para o país.
As maiores taxas de curetagem estão no Nordeste (5,5 a cada 1.000 mulheres), no Norte (4,48) e no Sudeste (4,13). A menor taxa está no Sul (2,65). Não estão computados os atendimentos na rede privada.
A estimativa é que os abortos clandestinos ultrapassem 1 milhão por ano no Brasil. (CC)


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