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SAÚDE
Complexos hospitalares da USP e da Unicamp desviam verbas do SUS para pagamentos de salários
Uso de verbas em hospitais é investigado
SORAYA AGÉGE
Editora da Folha Campinas
PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local
Os complexos hospitalares da
USP e da Unicamp estão desviando parte do dinheiro do SUS (Sistema Único de Saúde), destinado
a cobrir as faturas de atendimentos de doentes pela rede pública,
para pagar médicos e funcionários. A medida pode ser ilegal.
As duas universidades também
estão sendo investigadas pela prática de uma espécie de "apartheid" entre pacientes particulares e os que dependem da rede
pública, nos atendimentos em
hospitais universitários, mantidos por verbas do SUS e governo
do Estado.
A falta de controle e fiscalização
sobre o dinheiro foi admitida pelo
CNS (Conselho Nacional de Saúde), do Ministério da Saúde.
Essas falhas serão discutidas entre os próximos dias 11 e 12 em
uma oficina de trabalho em Brasília, com as cúpulas do setor.
Segundo o coordenador-geral
do CNS, Nelson Rodrigues dos
Santos, 63, o uso de verba do SUS
para complementar salários de
professores deve ser regularizado,
a partir da adoção de normas
mais claras, para evitar desvios.
A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) é investigada
pelo desvio de finalidade do dinheiro do SUS, usado para dobrar
salários de 368 professores por
meio do Fucs (Fundo de Complementação Salarial).
Do total de R$ 64 milhões por
ano que recebe do SUS, R$ 10,2
milhões vão para o Fucs e R$ 5,8
milhões para custear viagens acadêmicas, pesquisas e obras.
HC
No Hospital das Clínicas de São
Paulo, a prática é semelhante.
Segundo a assessoria de imprensa do hospital, 40% da verba
da Fundação Faculdade de Medicina da USP (fundação privada
mantenedora do HC) é destinada
à complementação salarial de
funcionários e professores.
Isso significa que cerca de R$
46,7 milhões dos R$ 116,8 milhões
arrecadados pela fundação em
1998 foram usados para salários.
Conforme a própria assessoria
de imprensa informou, apenas
12,9% da arrecadação da fundação é proveniente de particulares
e conveniados, o que significa que
o grosso dos recursos que completam salários de funcionários e
professores vêm de verbas públicas, ou seja, do SUS.
A assessoria de imprensa do HC
justificou que o orçamento repassado pela Secretaria de Estado da
Saúde de São Paulo não é suficiente para cobrir integralmente a
folha de pagamento do hospital e
manter os bons profissionais.
O hospital não informou quantos funcionários recebem a complementação nem qual a porcentagem de aumento dos salários.
A Procuradoria já pediu informações sobre os repasses de verbas do SUS para a Unicamp. A investigação da Procuradoria teve
início na quinta-feira, a pedido do
deputado estadual Renato Simões
(PT).
Com relação ao apartheid, ou
sistema de "dupla porta de entrada pelo SUS", o CNS se manifesta
totalmente contrário, segundo
Santos. "Nossa diretriz é contra a
existência de uma porta para pobres e outra para ricos."
O CRM (Conselho Regional de
Medicina) do Estado já fez uma
condenação ética ao sistema de
"apartheid" implementado nos
hospitais da USP.
Segundo o conselheiro Henrique Carlos Gonçalves, que assinou o parecer, a condenação pode
ser estendida hoje para os demais
hospitais universitários, como o
HC da Unicamp, que mantém
uma Policlínica.
"Nós não admitimos esse apartheid na saúde e o condenamos
eticamente", disse o conselheiro.
A separação de pacientes particulares e do SUS pela USP é objeto
de um inquérito, retomado há um
mês pelo Gaesp (Grupo de Atuação Especial da Saúde Pública e da
Saúde do Consumidor), do Ministério Público de São Paulo.
Segundo o promotor do Gaesp
Vidal Serrano Nunes Júnior, as
ações são ilegais e podem configurar improbidade administrativa dos envolvidos.
Colaborou GUSTAVO PORTO, da Folha Campinas
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