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"Apartheid" em hospitais é investigado
da Reportagem Local
da Folha Campinas
Demora no atendimento para
pacientes SUS, regalias para pacientes particulares ou de convênios. Uma prática que está sendo
chamada de "apartheid" é alvo de
investigações nos hospitais da
USP e da Unicamp.
O Ministério Público de São
Paulo está reunindo provas em
um inquérito aberto em maio
deste ano, que mostra a discriminação de atendimento a pacientes do SUS no Hospital das Clínicas de São Paulo.
O diretor da Associação dos
Servidores do HC, Nilson Valério
Primo, confirma que há "uma diferença brutal" entre os atendimentos. "As enfermarias para
particulares e conveniados não
abrem suas portas para pacientes
do SUS. Seus leitos, mesmo se
ociosos, não podem ser ocupados
por esses pacientes. Enquanto isso, há pessoas em macas no corredor", diz Primo. Segundo ele, o
laudo de um exame radiológico
demora, para pacientes particulares, no máximo dois dias, enquanto um paciente do SUS chega a esperar até 30 dias.
Segundo informações coletadas
pelo promotor Vidal Serrano Júnior, que preside o inquérito, o
setor de fígado do HC só permite
consultas de pacientes do SUS às
segundas e quartas-feiras. Os outros dias da semana são destinados a convênios e particulares.
"É estranho o fato de haver apenas dois dias para esses pacientes,
que são a maior demanda do hospital", diz o promotor.
Segundo ele, o Ministério Público está em negociação com o
hospital para solucionar a situação. O HC foi procurado desde a
última sexta-feira, mas a reportagem foi informada de que o superintendente só poderia se pronunciar sobre o caso hoje.
Na Unicamp, pelo menos 40
médicos atendem pacientes particulares, em jornadas de oito horas semanais, em um prédio da
universidade, equipado com verbas públicas. O sistema é feito por
meio da Funcamp, uma fundação
criada pela universidade.
Cada médico recebe cerca de
70% dos pagamentos feitos por
seus pacientes e o restante é repassado para a Funcamp. Muitos
dos médicos são contratos pela
universidade em regime de dedicação integral.
O CRM considera o sistema
uma forma de "apartheid". Esse
uso de espaço e equipamentos
públicos para pacientes particulares foi denunciado à Promotoria Pública de Campinas há dois
anos, pelo deputado estadual Renato Simões (PT), mas ainda não
há definição sobre o caso.
O STU e a subsecção da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil) em Campinas também questionam a Policlínica desde 97.
"A Policlínica é mantida pela
Unicamp, foi construída em área
pública, tem equipamentos públicos e nela não são garantidos
os princípios da gratuidade, universalidade e equidade do sistema público de saúde", afirmou o
diretor do STU (Sindicato dos
trabalhadores da Unicamp), Jefferson Lee Ruiz.
Regulamentação
No mês passado, o cardiologista
Adib Jatene, ex-diretor do Incor
(Instituto do Coração), foi a Brasília pedir apoio do senador Antonio Carlos Magalhães (BA) para a
criação de um projeto de lei que
regulamente a "dupla entrada"
nos hospitais públicos, permitindo o atendimento de particulares
e conveniados. Segundo Jatene,
os hospitais não teriam como sobreviver sem os recursos vindos
de particulares e conveniados.
O projeto de lei foi concluído
pelo senador Lúcio Alcântara
(PSDB-CE) e deve ser votado em
agosto, após o recesso parlamentar. O projeto estabelece um teto
de 25% dos leitos dos hospitais
para pacientes de convênios ou
particulares. No entanto o texto
não faz menção à diferenciação
no atendimento.
(PL e SA)
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