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experiências
"O colégio que eu cursei virou museu"
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA
Passos lentos, olhar
atento, para não escapar
nenhum detalhe. "No alta
da escadaria existia um relógio de caixa e pêndulo. O
térreo era circundado por
quadros das formandas",
vai lembrando a ex-interna, enquanto sobe os degraus do prédio histórico.
Às vésperas de completar 83 anos, Lucy Amaral
de Oliveira Ribeiro preserva a memória dos tempos
em que estudava no casarão da família Santos Dumont, que, de 1926 a 1951,
abrigou o colégio Stafford,
à época, um dos mais tradicionais redutos da elite
paulistana.
Lucy freqüentou o colégio de 1935 a 1940, mas só
um ano como interna,
quando, levados pela crise
do café, seus pais se mudaram temporariamente para a fazenda que tinham
em Jaú, interior paulista.
Na última quarta, a convite da reportagem, a ex-aluna visitou o edifício. De
1983 a 2001, o casarão,
construído em 1890, foi invadido por grupos de sem-teto e viciados em crack.
Hoje, restaurado, o prédio
abriga o Museu da Energia
de São Paulo.
"No salão de festas, poemas eram declamados pelos alunos, que também faziam apresentações de
piano e teatro. As paredes
tinham pintura decorativa
art nouveau", recorda
Lucy, se referindo ao cômodo principal do casarão. O Stafford era um colégio moderno e liberal,
explica Lucy. Nada de tomar banho de camisola ou
ajoelhar no milho.
O café da manhã era servido às 6h45. As aulas começavam uma hora depois. Os estudantes entravam na classe em fila, braços para trás. Às 10h, pausa
de 15 minutos. Entre as
12h30 e as 12h45, as aulas
estavam encerradas para
as externas. As internas
passariam o dia todo, até
as 21h30, com intervalo
para jantar, em salas de estudo, acompanhadas por
uma professora. Religião,
piano e dança de salão
eram facultativos. Se uma
amiga ou parente ligasse,
as alunas poderiam atendê-la, desde que fora do
horário de aula.
"Era uma formação chique, elegante. As aulas de
português, latim, francês e
inglês eram impecáveis.
Quem não aprendesse no
Stafford não aprenderia
em lugar nenhum."
Lucy aprendeu. Aliás, no
mês que vem, ela vai colocar mais uma vez seu inglês em prática numa viagem ao Alasca.
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