São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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experiências

"O colégio que eu cursei virou museu"

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA

Passos lentos, olhar atento, para não escapar nenhum detalhe. "No alta da escadaria existia um relógio de caixa e pêndulo. O térreo era circundado por quadros das formandas", vai lembrando a ex-interna, enquanto sobe os degraus do prédio histórico.
Às vésperas de completar 83 anos, Lucy Amaral de Oliveira Ribeiro preserva a memória dos tempos em que estudava no casarão da família Santos Dumont, que, de 1926 a 1951, abrigou o colégio Stafford, à época, um dos mais tradicionais redutos da elite paulistana.
Lucy freqüentou o colégio de 1935 a 1940, mas só um ano como interna, quando, levados pela crise do café, seus pais se mudaram temporariamente para a fazenda que tinham em Jaú, interior paulista. Na última quarta, a convite da reportagem, a ex-aluna visitou o edifício. De 1983 a 2001, o casarão, construído em 1890, foi invadido por grupos de sem-teto e viciados em crack. Hoje, restaurado, o prédio abriga o Museu da Energia de São Paulo.
"No salão de festas, poemas eram declamados pelos alunos, que também faziam apresentações de piano e teatro. As paredes tinham pintura decorativa art nouveau", recorda Lucy, se referindo ao cômodo principal do casarão. O Stafford era um colégio moderno e liberal, explica Lucy. Nada de tomar banho de camisola ou ajoelhar no milho.
O café da manhã era servido às 6h45. As aulas começavam uma hora depois. Os estudantes entravam na classe em fila, braços para trás. Às 10h, pausa de 15 minutos. Entre as 12h30 e as 12h45, as aulas estavam encerradas para as externas. As internas passariam o dia todo, até as 21h30, com intervalo para jantar, em salas de estudo, acompanhadas por uma professora. Religião, piano e dança de salão eram facultativos. Se uma amiga ou parente ligasse, as alunas poderiam atendê-la, desde que fora do horário de aula.
"Era uma formação chique, elegante. As aulas de português, latim, francês e inglês eram impecáveis. Quem não aprendesse no Stafford não aprenderia em lugar nenhum."
Lucy aprendeu. Aliás, no mês que vem, ela vai colocar mais uma vez seu inglês em prática numa viagem ao Alasca.


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