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SAÚDE
Alisantes e tinturas têm elementos químicos, como o fósforo, que podem afetar o material genético do embrião
Pesquisa liga tintura de cabelo a câncer
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio
LUCIA MARTINS
enviada especial ao Rio
Uma pesquisa realizada por epidemiologistas da ENSP (Escola
Nacional de Saúde Pública), da
Fundação Oswaldo Cruz, encontrou indícios de que tumores cerebrais cancerígenos em crianças
podem estar relacionados ao uso
de tinturas e alisantes de cabelo pelas mães durante a gravidez.
Segundo os dados preliminares
obtidos pelos pesquisadores, a frequência de uso de tinturas e alisantes entre mães de crianças com tumores cerebrais é 3,5 vezes maior
que entre mães de crianças com
outros problemas neurológicos.
De 1994 a 1997, os pesquisadores
compararam dois grupos de crianças e adolescentes com idades entre 0 e 20 anos, todos pacientes de
hospitais públicos.
No primeiro grupo, os exames
confirmaram a existência de câncer. No segundo, foram detectados
outros problemas neurológicos
que não tumores cerebrais.
No grupo de 80 crianças com
câncer, 18 tinham mães que usaram tinturas e alisantes durante
toda a gravidez, com aplicações
mensais. Entre as 87 crianças do
segundo grupo, apenas 7 tinham
mães usuárias desses produtos.
Todos os alisantes e tinturas tinham em comum sais de chumbo,
amônia e fósforo, elementos químicos tóxicos. Segundo Sérgio
Koifman, especialista em epidemiologia do câncer e coordenador
da pesquisa, esses produtos podem afetar o material genético do
embrião. Por isso, muitos médicos
já recomendam às suas pacientes
que parem de pintar o cabelo durante a gravidez, e Koifman reforça a recomendação.
A pesquisa, apresentada no 17º
Congresso Mundial de Oncologia,
no Rio, tinha o objetivo de buscar
possíveis fatores de risco para câncer cerebral em crianças. Foram
estudadas variáveis como idade da
mãe, casos de câncer na família e
exposição a outras toxinas. Nenhuma, porém, apresentou indícios tão fortes de relação com o
câncer cerebral como o uso de tinturas e alisantes na gravidez.
Ele disse, porém, que não há motivo para pânico. "Se uma mulher
pintou ou alisou o cabelo uma vez
sem saber que estava grávida, ou
mesmo durante toda a gravidez,
isso não significa que ela terá um
filho com tumores cerebrais. Significa que não deve mais fazer isso,
como prevenção", recomendou.
Segundo o especialista, as bulas
dos produtos já informavam que
eles não deveriam ser utilizados
durante a gestação. As mulheres,
porém, não viram ou desprezaram
a contra-indicação.
As análises serão repetidas em
outros grupos de crianças, até que
seja possível chegar -ou não- a
uma relação definitiva de causa e
efeito entre as tinturas de cabelo
das mães e o câncer nas crianças.
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