São Paulo, quinta, 27 de agosto de 1998

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SAÚDE
Alisantes e tinturas têm elementos químicos, como o fósforo, que podem afetar o material genético do embrião
Pesquisa liga tintura de cabelo a câncer

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

LUCIA MARTINS
enviada especial ao Rio

Uma pesquisa realizada por epidemiologistas da ENSP (Escola Nacional de Saúde Pública), da Fundação Oswaldo Cruz, encontrou indícios de que tumores cerebrais cancerígenos em crianças podem estar relacionados ao uso de tinturas e alisantes de cabelo pelas mães durante a gravidez.
Segundo os dados preliminares obtidos pelos pesquisadores, a frequência de uso de tinturas e alisantes entre mães de crianças com tumores cerebrais é 3,5 vezes maior que entre mães de crianças com outros problemas neurológicos.
De 1994 a 1997, os pesquisadores compararam dois grupos de crianças e adolescentes com idades entre 0 e 20 anos, todos pacientes de hospitais públicos.
No primeiro grupo, os exames confirmaram a existência de câncer. No segundo, foram detectados outros problemas neurológicos que não tumores cerebrais.
No grupo de 80 crianças com câncer, 18 tinham mães que usaram tinturas e alisantes durante toda a gravidez, com aplicações mensais. Entre as 87 crianças do segundo grupo, apenas 7 tinham mães usuárias desses produtos.
Todos os alisantes e tinturas tinham em comum sais de chumbo, amônia e fósforo, elementos químicos tóxicos. Segundo Sérgio Koifman, especialista em epidemiologia do câncer e coordenador da pesquisa, esses produtos podem afetar o material genético do embrião. Por isso, muitos médicos já recomendam às suas pacientes que parem de pintar o cabelo durante a gravidez, e Koifman reforça a recomendação.
A pesquisa, apresentada no 17º Congresso Mundial de Oncologia, no Rio, tinha o objetivo de buscar possíveis fatores de risco para câncer cerebral em crianças. Foram estudadas variáveis como idade da mãe, casos de câncer na família e exposição a outras toxinas. Nenhuma, porém, apresentou indícios tão fortes de relação com o câncer cerebral como o uso de tinturas e alisantes na gravidez.
Ele disse, porém, que não há motivo para pânico. "Se uma mulher pintou ou alisou o cabelo uma vez sem saber que estava grávida, ou mesmo durante toda a gravidez, isso não significa que ela terá um filho com tumores cerebrais. Significa que não deve mais fazer isso, como prevenção", recomendou.
Segundo o especialista, as bulas dos produtos já informavam que eles não deveriam ser utilizados durante a gestação. As mulheres, porém, não viram ou desprezaram a contra-indicação.
As análises serão repetidas em outros grupos de crianças, até que seja possível chegar -ou não- a uma relação definitiva de causa e efeito entre as tinturas de cabelo das mães e o câncer nas crianças.



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