São Paulo, quinta, 27 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Proteína corta fornecimento de sangue e mata tumor de fome

e da Sucursal do Rio

Um novo estudo conseguiu identificar peptídeos (partículas de proteínas) rastreadores dos vasos sanguíneos que alimentam os tumores. Ligados a remédios, eles conseguem "desconectar" os vasos dos tumores malignos e matá-los de fome.
A pesquisa foi realizada em ratos. Os camundongos que tomaram o novo composto viveram até o fim do estudo (seis meses).
Já os animais que não foram tratados ou os que tomaram apenas o remédio (sem o peptídeo acoplado) morreram alguns dias após o início do tratamento.
O estudo foi realizado pelo Instituto Burngham (Califórnia, EUA) e publicado na revista "Science" no início deste ano.
"Se consideramos que a vida de um rato é de cerca de dois anos, podemos dizer que o resultado é muito bom", afirmou Wadih Arap, um dos responsáveis pela pesquisa.
Ele segue a mesma linha da pesquisa feita pelo médico Judah Folkman, que causou polêmica depois que a imprensa norte-americana classificou os seus experimentos como a "cura do câncer".
O médico usou drogas para inibir a angiogênese (surgimento de ramificações de vasos próximo a regiões com tumores e que fornecem sangue a eles).
Folkman classificou o estudo de Burnham como a "principal linha farmacológica atual".

Invasão contida
O corte no fornecimento de sangue aos tumores quase paralisa o crescimento do câncer. Sem os vasos sanguíneos, o diâmetro do tumor cresce menos de 1 mm. Com os vasos, os tumores podem invadir órgãos inteiros.
Várias outras drogas que tentam cortar o fornecimento de sangue para os tumores estão sendo testadas nos Estados Unidos.
O grande diferencial dessa nova técnica é que ela conseguiu criar "rastreadores" para os diferentes tipo de tumores.
Todos os vasos sanguíneos que se formam ao redor dos tumores têm características próprias, o que possibilita sua identificação por um determinado tipo de peptídeo.
Foram identificados 14 tipos de peptídeos para 14 diferentes tumores. Os mais eficazes são os peptídeos para câncer de próstata e de pulmão.

Menos efeitos colaterais
Outra grande vantagem do tratamento é poder tentar matar o tumor -com a droga-, mas sem tantos efeitos colaterais, já que os remédios vão mais diretamente ao alvo.
O "ataque vascular dirigido" é o nome dado pelos pesquisadores para a nova técnica.
Segundo o brasileiro Wadih Arap, várias instituições estão começando a testar a associação do peptídeo com os remédios em pessoas.
"Mas esses testes podem demorar algum tempo. Na média, eles demoram cerca de cinco anos", afirma Arap.
Uma dessas instituições é o laboratório norte-americano Ilex. Segundo ele, toda instituição que não tenha fins lucrativos poderá usar a nova técnica sem pagar nada ao Instituto Burnham, que é especializado em pesquisa sobre câncer.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.