São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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DESPERDÍCIO

Jonathan Viana, que espera por transplante há três anos, e sua mãe, Flávia; no detalhe, a embalagem com a córnea achada no lixo

Córnea é jogada no lixo em Minas Gerais

Toninho Almada/"Hoje em Dia"
Jonathan Viana, que espera por transplante há três anos, e sua mãe, Flávia; no detalhe, a embalagem com a córnea achada no lixo


RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

A Polícia Civil de Minas Gerais e a direção da Santa Casa, em Belo Horizonte, investigam as causas do desperdício de uma córnea que deveria ter sido transplantada anteontem para um adolescente que aguarda há três anos pela cirurgia.
Jonathan João Batista Diniz Viana, 15, chegou a fazer todos os procedimentos pré-operatórios e a ser internado, mas não recebeu a córnea.
No momento em que a operação deveria ter sido realizada, por volta das 12h de anteontem, o médico procurou os pais do adolescente, na ante-sala, e informou que o órgão havia desaparecido da geladeira da clínica de olhos da Santa Casa.
"O doutor chegou e nos disse, simplesmente, que, infelizmente, a córnea havia desaparecido", disse a mãe do Jonathan, Flávia Maria Diniz Melo Viana, 37.
Inconformado, o pai do rapaz, Wladimir Alves Viana, 33, chamou a Polícia Militar e registrou a ocorrência, que foi encaminhada, posteriormente, à Polícia Civil. Depois de algumas horas de investigação da polícia e do próprio hospital, a cápsula contendo a membrana a ser transplantada foi encontrada, por volta das 17h, em uma lixeira do depósito de material de limpeza da clínica. Uma funcionária do setor de higienização e limpeza do hospital teria localizado-a.
Como estava danificada e havia ficado por muito tempo fora da geladeira, a córnea não poderia mais ser usada. Segundo a Secretária da Saúde de Minas Gerais, há cerca de 900 pessoas na fila aguardando uma córnea.
De acordo com a Santa Casa, as membranas são acondicionadas em geladeiras a uma temperatura de 4C, por no máximo sete dias. A que sumiu, já estava havia cinco dias na geladeira.

Deficiente físico
Jonathan é deficiente físico e, em decorrência de problemas neurológicos, enxerga com bastante dificuldade com apenas um dos olhos. Sua mãe afirmou que a família já contratou advogado para acionar a Santa Casa juridicamente, exigindo ressarcimento pelo ocorrido.
"Fiquei muito chocada e revoltada com o hospital, que se diz muito seguro, mas que não teve uma chefia ou uma coordenação boa nesse caso", disse Flávia. Ela afirmou que ninguém da Santa Casa havia ligado para a família, após o ocorrido. Essa é a segunda vez, disse, que a cirurgia do seu filho é cancelada. Da outra, teria havido demora nos procedimentos pré-operatórios.
A assessoria de imprensa da Santa Casa informou que o hospital já havia começado a ouvir as 15 pessoas, entre médicos, enfermeiros e funcionários da limpeza, que tiveram acesso ao local onde fica a geladeira.
O hospital considera que a principal suspeita é de que alguém, ao tentar manipular a cápsula, derrubou e quebrou o vidro, tendo jogado-o na lixeira em seguida. Informou ainda não ter suspeitos e descartou a possibilidade de tráfico de órgãos.
Ainda de acordo com a instituição, Jonathan pode ser operado ainda amanhã, já que hoje haverá uma resposta sobre a obtenção de um novo doador.


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