São Paulo, Quarta-feira, 27 de Outubro de 1999
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"Escolha de quem seria jogado era aleatória"

da Reportagem Local

O monitor José Carlos Costa, 42, viu um monitor ser jogado de cinco metros de altura e um outro adolescente morrer. Segue o relato:
"Quando invadiram e dominaram a situação, os moleques obrigaram os monitores a andar de cabeça baixa o tempo todo, não dava nem para ver quem batia.
Todos cobriram a cabeça para não ser reconhecidos.
Desde o início da rebelião, fui tomando pauladas nas costas e na cabeça. Eu estou com a cabeça toda doendo e estou cheio de hematomas pelo corpo.
Lá dentro, a gente (os monitores) procurava os lugares mais calmos e tentava andar juntos, para tentar se proteger. Quando eles colocaram fogo na ala C, não tinha mais para onde correr. Ai, eles não deixavam a gente ficar juntos.
Chegaram a algemar os monitores e a nos arrastar pelo braço. Ninguém podia ajudar o outro ou fazer nada.
Vi um interno do seguro morrer. Ele tinha assassinado uma criança de sete anos de idade e estava na Febem há três dias.
Ele levou tanta paulada. Foi morto por uns 15 meninos, com chutes, pedaços de ferro e pauladas.
O menino tentou correr, fugir, até que caiu de tanto apanhar. Ele implorou para não morrer, mas não teve jeito. Ficou lá caído.
Vi os menores jogar um monitor lá de cima (cinco metros de altura). Era o Edmilson, que ainda está no hospital. Ele levou 18 estiletadas e terá que ser operado.
A escolha dos monitores que seriam jogados foi aleatória, qualquer um que estivesse na frente poderia ser a vítima.
Na verdade, todos os monitores apanharam, só que alguns tiveram mais sorte.
Não sei se volto para a Febem. Se fosse hoje, não voltaria. Não tenho condições.
Tenho que refletir direitinho, é difícil. Hoje eu tenho medo deles e não dá para trabalhar na Febem com medo dos meninos.
Só consegui sair porque um dos meninos me usou para negociar com a polícia. Ele me me levou até a saída. Quando vi que estava perto da tropa de choque, sabia que eu não ia voltar."


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