São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Administração social virou leiteria"

DO ENVIADO ESPECIAL

Único sociólogo presente ao debate de ontem -os demais debatedores eram todos cientistas políticos-, Luiz Jorge Werneck Vianna, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro), afirmou que "a administração social no Brasil virou uma leiteria. A questão é saber quem vai dar o melhor leite para as crianças, enquanto as questões sistêmicas escapam do controle da opinião pública".
Vianna afirmou que se assiste hoje a uma "avalanche" do Executivo. "Há uma primazia do Executivo sobre o Legislativo. O Executivo também controla o vértice do Judiciário ao nomear os ministros dos tribunais superiores."
Para o pesquisador, o país vive "um presidencialismo de fachada ou um arremedo de parlamentarismo, com o que há de pior em cada um deles. O "comitê executivo das classes dominantes do Brasil" se reúne, negocia, transaciona e desce suas decisões de forma absolutamente vertical para o Legislativo e para a mídia, que molda a opinião pública".

Estabilidade
Segundo o sociólogo, "existe um dissídio entre o campo da opinião democrática, de onde se deveriam extrair as políticas de responsabilização, e as tomadas de decisão assimétricas desse presidencialismo de coalizão".
Conforme disse, a palavra-chave é estabilidade. "Mas, se não temos virtudes, se não temos instituições, qual o caminho para a democracia superada a etapa da estabilização?"
Ele também criticou o modelo das agências reguladoras dos setores privatizados: "Achar que as agências poderão ser controladas é atentar contra a realidade. Elas criam normas que nos atingem a todos, contornando o Poder Legislativo".
As agências são "um nódulo de empresários e tecnocratas atuando à margem da opinião pública", afirmou.
Ele também direcionou críticas ao Legislativo e ao Judiciário: "O Judiciário virou o muro de lamentações do brasileiro, uma espécie de INSS. No Legislativo, não importa a capacidade do parlamentar: a reeleição nada tem a ver com sua atuação, sim com sua relação com o Executivo". (LC)



Texto Anterior: Ciências sociais: Encontro termina com ataques ao governo FHC
Próximo Texto: Grupo discute opções para a TV aberta
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.