São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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RIO

Assunto chegou à Promotoria, que decidiu arquivá-lo

Briga de duas crianças em escola vira caso de polícia em Petrópolis

TALITA FIGUEIREDO
ENVIADA ESPECIAL A PETRÓPOLIS

A briga de duas crianças de sete anos durante o recreio escolar há duas semanas passou por uma delegacia de polícia e chegou ontem ao gabinete da Promotoria da Infância e Juventude de Petrópolis (cidade serrana a 65 km do Rio). Depois de examinar a questão, a promotora Maria Lurdes Feo Polonio pediu o arquivamento do caso sem precisar ouvir as "partes" -um menino e uma menina que estão na 1ª série.
As duas crianças estudam na mesma sala do Colégio Santa Isabel. "Ela estava correndo e caiu em cima de mim. Depois, ela começou a me bater com a lancheira. Aí, eu dei uma rasteira nela e ela caiu", contou o menino.
Segundo ele, a garota chorou porque bateu a cabeça e ficou com um galo. Ele também chorou "um pouquinho", depois que ela o acertou com a lancheira.
O que parece simples para o garoto, para a família dele e para a promotora foi tachado de "espancamento e violência" pela mãe da menina. Segundo ela, a garota contou que, antes de dar a rasteira nela, o garoto disse que "lutava judô e que ia bater nela".
"Minha filha foi uma vítima, passou três dias em observação num hospital, teve de fazer tomografia e depois ficou mais três dias em casa. Nós fizemos isso para mostrar à escola que minha filha não pode chegar em casa machucada", afirmou ela, que não descarta a possibilidade de entrar com uma ação contra a escola.
A diretora do Colégio Santa Isabel, irmã Maria da Conceição Milagres, afirmou ter se surpreendido quando uma intimação chegou ao colégio, determinando que o pai do garoto e o próprio menino comparecessem à delegacia para prestar depoimento. Segundo a irmã, a briga foi "coisa normal de criança".
Por pouco o menino não foi ouvido na delegacia. Apenas o pai do garoto prestou depoimento. A mãe dele disse que "lamenta" o caso e que "não houve violência, mas duas crianças aprendendo a se defender".
De acordo com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), menores de 12 anos não podem ser acusados de "atos infracionais", mas poderiam ser obrigados a ter acompanhamento médico e psicológico. A promotora pediu o arquivamento do caso, descartando ouvir o garoto.
Enquanto isso, na escola, as duas crianças já fizeram as pazes. "Nós somos amigos. Ontem ela me deu um saquinho de bala", afirmou o garoto.
As duas crianças e seus pais não foram identificados pela Folha para evitar que as crianças passem por constrangimentos.


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