São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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TRANSPORTE

Ociosidade se deve a atraso na construção da linha 4, prometida desde 1995, mas que não começará a operar antes de 2008

Subutilizada, linha 5 do metrô dá prejuízo de R$ 2,8 mi por mês

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Elisabete Rosalino, 47, vai trabalhar diariamente de metrô e afirma sem ter medo de se enganar: sempre conseguiu viajar sentada, nunca teve de ir em pé.
Aliada ao fato de andar nas composições mais modernas da rede sobre trilhos de São Paulo, que têm até ar-condicionado, essa situação é confortável para Rosalino e para os demais passageiros da linha 5-lilás, que liga Largo Treze e Capão Redondo, na periferia da zona sul. Mas, ao mesmo tempo, é símbolo do fracasso de público dessa obra.
Depois de investimentos de US$ 646 milhões (valor que se aproximaria hoje de R$ 1,85 bilhão) da administração Covas/Alckmin (PSDB), a linha de 8,4 km inaugurada em outubro de 2002 transportou no mês passado uma média inferior a 22 mil passageiros por dia -contra uma previsão de 85 mil anunciada para julho e de 150 mil para dezembro de 2003.
A atual demanda representa somente 0,8% de todos os usuários do Metrô paulista e chega a ser menor que a de uma única linha de ônibus municipal -como a Jardim Miriam-Vila Gomes, que carrega 26 mil passageiros/ dia.
O que essa ligação do Metrô arrecadou nas catracas de janeiro a agosto de 2004 foi suficiente para cobrir somente 16% de seu custo operacional -a receita foi de R$ 4,32 milhões, contra R$ 26,94 milhões de despesas com manutenção e 294 funcionários. O prejuízo de R$ 2,8 milhões mensais, coberto pelo superávit das outras linhas, só não foi maior porque as seis estações da linha 5-lilás fecham aos finais de semana.
A construção dessa ligação do Metrô consumiu um terço de todos os investimentos feitos pelo Estado na rede sobre trilhos desde 1995. A ociosidade se repete na linha C da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que concentrou gastos de US$ 259 milhões -valor próximo hoje de R$ 740 milhões.
O Metrô começou neste mês uma série de medidas para tentar dobrar a utilização da linha 5-lilás -a nova meta é passar de 40 mil usuários em 2005. Foram liberadas baldeações gratuitas com oito linhas de ônibus intermunicipais, que levaram a um recorde de 32 mil passageiros anteontem. Mais sete linhas, de municípios como Itapecerica da Serra e Embu, serão integradas no mês que vem.
O que mais preocupa na ociosidade da linha 5-lilás, porém, é a impossibilidade de reverter essa situação de forma mais significativa no curto ou médio prazos.
A origem de seu problema é a ausência da linha 4-amarela do Metrô (Luz-Vila Sônia), prometida pelo Estado desde 1995, mas que começou suas obras somente em 2003 e que não terá sua primeira fase pronta antes de 2008.
Sem a linha 4, a ligação Capão Redondo-Largo Treze, construída na área paulistana considerada mais carente em transporte coletivo pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), financiador do projeto, acaba servindo somente para ligar bairros. Quem se dirige à região central prefere pegar um ônibus direto.
Com a linha 4, que deveria ter ficado pronta antes, os acessos ao centro ficarão facilitados -haverá a possibilidade de fazer baldeação com a linha C da CPTM e, em seguida, com a estação Pinheiros.
A operação completa da linha do Capão Redondo só deverá ocorrer, entretanto, depois de sua extensão até a Vila Mariana e a Chácara Klabin -obra projetada, mas sem prazo para sair do papel.


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