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Mesmo privatizado, Rodoanel custará R$ 800 mi ao Estado
Concessão da obra viária à iniciativa privada não vai gerar renda suficiente para arcar com o término do trecho sul
Em 30 anos, prazo da concessão, estimativa é que a empresa que assumir o Rodoanel arrecade R$ 18 bilhões com pedágio
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A concessão do Rodoanel à
iniciativa privada não vai conseguir gerar recursos suficientes para pagar a obra do trecho
sul, estimada em R$ 3,5 bilhões,
incluindo desapropriações e
projetos. Com isso, o Estado terá que continuar investindo recursos do Orçamento neste trecho, a principal obra viária em
andamento em São Paulo.
As informações estão na ata
da reunião do conselho diretor
do PED (Programa Estadual de
Desestatização) em que foi
aprovada a privatização da operação do Rodoanel, que circundará a Grande São Paulo.
De acordo com a exposição,
feita durante a reunião pelo secretário Dario Rais Lopes
(Transportes), o Estado vai receber pela concessão do Rodoanel, em quatro anos, R$ 2,7 bilhões da empresa que o assumir. Ou seja, caso a obra dure
quatro anos, como o que está
programado, o Estado ainda terá que investir R$ 800 milhões
do Orçamento.
Além disso, embora as obras
já estejam em andamento, a cobrança de pedágio só vai começar em 2008 e, na ocasião, será
feita apenas no trecho oeste.
Ajuda federal
Quando a idéia da privatização foi anunciada pelo secretário Lopes, em entrevista à Folha no início de setembro, a
proposta foi colocada como forma de financiar a obra sem depender da ajuda de verbas do
governo federal.
Isso porque o governo do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) havia se comprometido a repassar R$ 140 milhões
por ano para o Rodoanel, mas
só previu R$ 50 milhões no Orçamento da União de 2007.
O valor da tarifa básica, R$
5,00, já foi estabelecido pelo governador Cláudio Lembo
(PFL). A cobrança de automóveis ocorrerá em duas praças ao
longo dos cerca de 94 km de extensão dos trechos oeste, já
concluído, e sul.
Também está prevista no
projeto a instalação de nove cabines de cobrança nos entroncamentos do Rodoanel com rodovias, para evitar que o motorista trafegue em pequenos trechos sem pagar pedágio.
Além da tarifa básica, será estabelecida uma outra, cujo valor ainda não foi definido, para
veículos de carga. Propostas
dessa tarifa especial serão apresentadas pelo secretário Lopes
no dia 6, durante a audiência
pública que vai discutir a
concessão.
Fuga de caminhões
O objetivo da tarifa diferenciada é não afugentar os veículos de carga, já que isso contrariaria a concepção do Rodoanel, feito para tirar das marginais Pinheiros e Tietê os caminhões que usam as vias como
rota de passagem pela cidade
de São Paulo.
Em 30 anos, prazo da concessão, a estimativa é que a concessionária arrecade R$ 18 bilhões de pedágio. Ou seja, os
motoristas vão pagar R$ 600
milhões por ano.
Ao apresentar o projeto ao
conselho diretor do PED, Lopes colocou como primeiro critério para o julgamento das
propostas da licitação o valor
que a concessionária vai pagar
ao Estado pela outorga.
Sem consenso
A leitura da ata da reunião revela que não houve consenso
na cobrança de pedágio no trecho oeste. Ruy Altenfelder Silva, nomeado pelo governador
como conselheiro do PED, votou contra a proposta.
Altenfelder afirmou que, em
reuniões anteriores do próprio
conselho do PED, "registraram-se opiniões favoráveis a
que o trecho oeste não fosse objeto de cobrança de pedágio".
Foram voto vencido.
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