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RETRATO DO BRASIL
Segundo o IBGE, apenas 42,7% do volume consumido apresenta boa condição; empresa local nega
Tratamento de água é mais precário no Pará
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
O Pará é o Estado brasileiro que
apresenta a pior situação na questão de tratamento de água. Ali, só
42,7% do volume consumido pela
população está em condição
apropriada, segundo o IBGE.
Pelo menos 32% do volume de
água consumido na região Norte
do país não tem tratamento.
No Pará, 89% do abastecimento
se baseia em águas subterrâneas,
como poços artesianos, segundo
dados do instituto.
No bairro do Guamá, um dos
mais populosos da periferia da capital, Belém, o posto de saúde municipal atende em média 12 crianças por dia com diarréias e verminoses provocadas, provavelmente, pelo consumo da água vinda
diretamente da torneira.
A dona-de-casa Denilda Vera
Cruz de Andrade, 17, toma a água
que vem direto do encanamento,
sem ferver, porque não pode aumentar o consumo de gás em sua
casa. "É normal ter diarréia por
aqui. Na minha família, todos já
tiveram alguma doença por causa
da água", disse.
Filtro improvisado
Na ocupação Riacho Doce, também localizada na periferia de Belém, a dona-de-casa Maria José
Souza Caetano, 40, improvisou
um sistema para filtrar a água
com algodão. Mas, mesmo assim,
ela, o marido e a filha não escaparam de uma diarréia que afetou a
família por 15 dias.
"Além de filtrar no algodão, que
fica amarelo depois de usado,
agora a gente ferve a água e depois
coloca em um filtro de barro",
disse Maria José.
Outro exemplo de manejo impróprio de água acontece na Vila
da Barca. Os moradores residem
sobre palafitas e as fezes são jogadas diretamente no rio Guamá,
onde crianças como Ana Flávia, 4,
tomam banho diariamente.
Para a pesquisadora do departamento de Engenharia Química da
UFPA (Universidade Federal do
Pará), professora Vera Nobre
Brás, a maior parte da contaminação acontece no percurso da água
até a torneira e é provocada por
perfurações na canalização.
"A vastidão territorial do Estado
também implica a distribuição da
água tratada. Em muitos municípios, a população utiliza os poços
e os rios para o abastecimento",
disse a pesquisadora.
Estado
A Cosanpa (Companhia de Saneamento do Pará) atende 63 dos
143 municípios do Estado e mais
sete vilarejos com perfurações de
poços artesianos e a canalização
de superfície.
Segundo o presidente da Cosanpa, Maurício Almeida, o abastecimento está dentro dos padrões de
potabilidade exigidos pelas normas técnicas brasileiras, com exames diários químicos, físicos e
bacteriológicos.
"Nos últimos oito anos, o número de pessoas abastecidas no
Pará subiu de 58% para 75%",
disse o presidente da companhia.
De acordo com Almeida, na região metropolitana de Belém esse
número subiu de 85% para 95%
da população.
O presidente da Cosanpa informou desconhecer os dados apresentados pelo IBGE. Informado
pela Agência Folha, ele disse que
os números não representam a
realidade do Estado.
Segundo ele, um dos principais
objetivos do governo do Pará é
expandir a coleta de lixo, o tratamento de esgoto e o abastecimento de água tratada por meio do
projeto Alvorada.
"O objetivo do projeto Alvorada
é aumentar a cobertura de saneamento básico para pelo menos
mais 50 municípios do Pará", disse o presidente.
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