São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 2002

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RETRATO DO BRASIL

Segundo o IBGE, apenas 42,7% do volume consumido apresenta boa condição; empresa local nega

Tratamento de água é mais precário no Pará

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O Pará é o Estado brasileiro que apresenta a pior situação na questão de tratamento de água. Ali, só 42,7% do volume consumido pela população está em condição apropriada, segundo o IBGE.
Pelo menos 32% do volume de água consumido na região Norte do país não tem tratamento.
No Pará, 89% do abastecimento se baseia em águas subterrâneas, como poços artesianos, segundo dados do instituto.
No bairro do Guamá, um dos mais populosos da periferia da capital, Belém, o posto de saúde municipal atende em média 12 crianças por dia com diarréias e verminoses provocadas, provavelmente, pelo consumo da água vinda diretamente da torneira.
A dona-de-casa Denilda Vera Cruz de Andrade, 17, toma a água que vem direto do encanamento, sem ferver, porque não pode aumentar o consumo de gás em sua casa. "É normal ter diarréia por aqui. Na minha família, todos já tiveram alguma doença por causa da água", disse.

Filtro improvisado
Na ocupação Riacho Doce, também localizada na periferia de Belém, a dona-de-casa Maria José Souza Caetano, 40, improvisou um sistema para filtrar a água com algodão. Mas, mesmo assim, ela, o marido e a filha não escaparam de uma diarréia que afetou a família por 15 dias.
"Além de filtrar no algodão, que fica amarelo depois de usado, agora a gente ferve a água e depois coloca em um filtro de barro", disse Maria José.
Outro exemplo de manejo impróprio de água acontece na Vila da Barca. Os moradores residem sobre palafitas e as fezes são jogadas diretamente no rio Guamá, onde crianças como Ana Flávia, 4, tomam banho diariamente.
Para a pesquisadora do departamento de Engenharia Química da UFPA (Universidade Federal do Pará), professora Vera Nobre Brás, a maior parte da contaminação acontece no percurso da água até a torneira e é provocada por perfurações na canalização.
"A vastidão territorial do Estado também implica a distribuição da água tratada. Em muitos municípios, a população utiliza os poços e os rios para o abastecimento", disse a pesquisadora.

Estado
A Cosanpa (Companhia de Saneamento do Pará) atende 63 dos 143 municípios do Estado e mais sete vilarejos com perfurações de poços artesianos e a canalização de superfície.
Segundo o presidente da Cosanpa, Maurício Almeida, o abastecimento está dentro dos padrões de potabilidade exigidos pelas normas técnicas brasileiras, com exames diários químicos, físicos e bacteriológicos.
"Nos últimos oito anos, o número de pessoas abastecidas no Pará subiu de 58% para 75%", disse o presidente da companhia.
De acordo com Almeida, na região metropolitana de Belém esse número subiu de 85% para 95% da população.
O presidente da Cosanpa informou desconhecer os dados apresentados pelo IBGE. Informado pela Agência Folha, ele disse que os números não representam a realidade do Estado.
Segundo ele, um dos principais objetivos do governo do Pará é expandir a coleta de lixo, o tratamento de esgoto e o abastecimento de água tratada por meio do projeto Alvorada.
"O objetivo do projeto Alvorada é aumentar a cobertura de saneamento básico para pelo menos mais 50 municípios do Pará", disse o presidente.



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