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Juliana, 12, ganha a vida em lixão de Olinda
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OLINDA
Ainda é madrugada quando Juliana, 12, sai da casa onde mora
com a mãe desempregada e um
irmão deficiente físico para trabalhar no lixão de Olinda, município da região metropolitana de
Recife (PE).
Em jejum, ela anda três quilômetros até chegar ao depósito,
uma área cercada por um muro
alto de concreto que não impede a
entrada de outras crianças e adolescentes no local.
A menina passa pelo portão
principal e, com um saco plástico
nas mãos, espera com outros catadores a chegada dos caminhões.
Quando as caçambas despejam os
detritos, Juliana avança sobre o lixo para procurar e separar o que
pode ser revendido.
Sem proteção nas mãos e com
botas de plástico amarelo nos pés,
a garota recolhe garrafas plásticas,
latas e papelão. Tudo é vendido ali
mesmo, a intermediários que pagam entre R$ 0,06 e R$ 0,20 pelo
quilo dos produtos. À noite, a garota volta para casa com cerca de
R$ 5,00 no bolso.
Juliana, que sustenta a família
com seu trabalho, encontra também no lixo a sua refeição. "Como
queijo, mortadela, Danone,
pão...", diz ela. "O que achar aqui
é o que eu vou comer."
A garota não estuda e não sabe
até que ano cursou. Diz que sabe
escrever algumas palavras, mas
não tem idéia de quanto tempo
permaneceu na escola.
Brincar é uma atividade que ela
abandonou desde que completou
10 anos de idade. Foi quando a
mãe dela, Jaciara, 38, ficou desempregada. "Não tinha mais nada
em casa, e eu tive que trabalhar."
Levada por uma vizinha ao lixão, a menina passou a revirar os
detritos de segunda a sábado, até
as 18h. "Aqui a gente não brinca,
só trabalha e conversa", diz.
Segundo Juliana, a vizinha, que
continua na atividade, e um evangélico cuidam dela no trabalho.
Ela diz que não sabe o que fazer
no futuro para melhorar de vida.
Diz apenas que gostaria de estar
fora do lixão, apesar de afirmar
que nunca pegou "uma doença
qualquer" por causa do trabalho.
O secretário de Obras e Serviços
Públicos de Olinda, Luciano
Moura, não foi encontrado ontem
à tarde para comentar a presença
de crianças no lixão.
Na secretaria, a informação era
de que ele estava em reunião e não
poderia ser interrompido. O número do telefone da reportagem
foi fornecido para contato, mas
até a conclusão desta edição ninguém retornou a ligação.
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