São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 2002

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Juliana, 12, ganha a vida em lixão de Olinda

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OLINDA

Ainda é madrugada quando Juliana, 12, sai da casa onde mora com a mãe desempregada e um irmão deficiente físico para trabalhar no lixão de Olinda, município da região metropolitana de Recife (PE).
Em jejum, ela anda três quilômetros até chegar ao depósito, uma área cercada por um muro alto de concreto que não impede a entrada de outras crianças e adolescentes no local.
A menina passa pelo portão principal e, com um saco plástico nas mãos, espera com outros catadores a chegada dos caminhões. Quando as caçambas despejam os detritos, Juliana avança sobre o lixo para procurar e separar o que pode ser revendido.
Sem proteção nas mãos e com botas de plástico amarelo nos pés, a garota recolhe garrafas plásticas, latas e papelão. Tudo é vendido ali mesmo, a intermediários que pagam entre R$ 0,06 e R$ 0,20 pelo quilo dos produtos. À noite, a garota volta para casa com cerca de R$ 5,00 no bolso.
Juliana, que sustenta a família com seu trabalho, encontra também no lixo a sua refeição. "Como queijo, mortadela, Danone, pão...", diz ela. "O que achar aqui é o que eu vou comer."
A garota não estuda e não sabe até que ano cursou. Diz que sabe escrever algumas palavras, mas não tem idéia de quanto tempo permaneceu na escola.
Brincar é uma atividade que ela abandonou desde que completou 10 anos de idade. Foi quando a mãe dela, Jaciara, 38, ficou desempregada. "Não tinha mais nada em casa, e eu tive que trabalhar."
Levada por uma vizinha ao lixão, a menina passou a revirar os detritos de segunda a sábado, até as 18h. "Aqui a gente não brinca, só trabalha e conversa", diz.
Segundo Juliana, a vizinha, que continua na atividade, e um evangélico cuidam dela no trabalho.
Ela diz que não sabe o que fazer no futuro para melhorar de vida. Diz apenas que gostaria de estar fora do lixão, apesar de afirmar que nunca pegou "uma doença qualquer" por causa do trabalho.
O secretário de Obras e Serviços Públicos de Olinda, Luciano Moura, não foi encontrado ontem à tarde para comentar a presença de crianças no lixão.
Na secretaria, a informação era de que ele estava em reunião e não poderia ser interrompido. O número do telefone da reportagem foi fornecido para contato, mas até a conclusão desta edição ninguém retornou a ligação.



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