São Paulo, Segunda-feira, 28 de Junho de 1999
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EDUCAÇÃO
Congresso em SP discute educação de crianças surdas

da Reportagem Local

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
Alunos durante aula na Escola Especial para Crianças Surdas da Fundação de Rotarianos de São Paulo


O que é melhor para o desenvolvimento de uma criança surda: colocá-la para estudar em uma sala de aula convencional ou concentrar sua formação às suas necessidades específicas em escolas especiais? Essa discussão deverá ser o tom dos debates do 1º Congresso de Educação de Surdos, promovido pelo Instituto de Tecnologia Avançada em Educação, que começa hoje em São Paulo.
A primeira abordagem vem ganhando espaço no país não só no que diz respeito à educação dos surdos, mas também à formação de crianças e jovens portadores de outros tipos de deficiência.
Ela se baseia na idéia de que a escola deve propiciar, num espaço comum, a participação de todos e remover as barreiras que os impeçam de aprender, independentemente de características e diferenças sociais, culturais ou físicas.
Já os defensores de uma educação especial sustentam que, diferentemente dos portadores de outras deficiências física ou mental, os surdos são uma espécie de minoria cultural e linguística. "Eles têm uma língua própria, a língua de sinais. É uma situação comparável à dos índios", diz Carlos Skliar, coordenador de um núcleo de pesquisa sobre educação de surdos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O exemplo dos índios serve para ilustrar o modo como ele acha que deve se dar a educação formal dos surdos -começar pela língua minoritária (a língua de sinais) e chegar à língua majoritária (o português). "Colocar um aluno surdo em uma sala de aula convencional, como querem os defensores da teoria da inclusão, é tratá-lo como um indivíduo portador de uma deficiência e não como membro de uma comunidade, que é sua real condição", diz ele.
O ideal, na opinião do pesquisador, é que os surdos recebam uma educação bilíngue para que mantenham sua "identidade" e consigam fazer a ponte para se integrar à comunidade maior da qual também fazem parte.
Os defensores da inclusão concordam que os surdos têm especificidades, mas acreditam que o grande desafio da escola é promover a integração. Por isso há quem seja contra a educação bilíngue e defenda a idéia de que professores e alunos têm de criar, no dia-a-dia, mecanismos para lidar com as diferenças entre surdos e ouvintes. "A escola deve ser um espaço de formação de toda uma geração, não podem excluir ninguém", diz Maria Teresa Egler Mantoan, professora da Faculdade de Educação da Unicamp.
Ou seja, a inclusão dos portadores de deficiência na sala convencional é um "caminho de mão dupla". "O esforço assimilativo entre surdos e ouvintes deve ser recíproco", diz. Ela acredita que dessa maneira se promove a aproximação. (MARTA AVANCINI)



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