São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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SEGURANÇA

Para o ex-secretário Petrelluzzi, ""os limites (da PM) vão surgir conforme forem sendo desenvolvidos os trabalhos"

Criador do Gradi evita comentar ações

DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-secretário da Segurança Pública Marco Vinicio Petrelluzzi, 46, que criou o Gradi e ficou à frente do grupo por 22 meses, afirma nunca ter recebido informações de atos ilegais cometidos pelos policiais desse setor.
O secretário, que deixou o cargo em janeiro, não quis falar sobre o recrutamento de presos nem das infiltrações de policiais em organizações criminosas. ""Nunca comento esses métodos, desde que estava na secretaria, porque acho que eles têm de ser sigilosos."
Ao criar o Gradi, como núcleo de inteligência da secretaria, Petrelluzzi colocou policiais civis e militares diretamente subordinados ao seu gabinete. Afirma que a decisão foi técnica, porque não tinha como introduzi-los na hierarquia da PM ou dentro da estrutura da Polícia Civil.
Na prática, porém, as duas corporações militares nunca atuaram juntas. Ficavam em prédios separados, sem integração.
O secretário se limitou a dizer que qualquer pedido participação de preso em diligência depende de autorização judicial.
Segundo ele, o trabalho de inteligência policial no Estado, como o que tem sido visto, é novo, ""de dois anos para cá", e está sendo aprimorado. ""Os limites vão surgir conforme forem sendo desenvolvidos os trabalhos."
Petrelluzzi criticou a comparação feita pela Folha dos resultados obtidos pelas polícias Civil e Militar na investigação do PCC. ""Há ações que dão bom resultado e outras, não."
Sobre as mortes, disse que disparos pelas costas, como os que estão citados no caso da morte de Chacal -um dos detentos recrutados-, não permitem concluir se houve abuso. ""Se a pessoa correr atirando na polícia, é provável que levará um tiro nas costas."
O ex-comandante da Polícia Militar paulista coronel Rui César Melo afirma que todas as operações do serviço reservado contra o PCC estavam respaldadas em autorizações judiciais -isso para grampos telefônicos e retirada de presos de penitenciárias.
""Infiltrar em quadrilhas faz parte do trabalho da polícia. É um meio de se descobrir como os criminosos trabalham, não para levantar provas", diz Melo, que hoje coordena a Diretoria de Cooperação e Articulação de Ações de Segurança da Senasp (Secretaria Nacional de Justiça), em Brasília, sobre por que a PM não pediu autorização judicial para se infiltrar.
O coronel deu a resposta ao falar sobre a opinião de especialistas de que provas coletadas em infiltrações não-autorizadas pela Justiça são ilícitas.
A idéia do monitoramento prévio do PCC, diz o coronel, era para criar mecanismos que permitissem antecipar ações dos criminosos. Melo, porém, afirmou que não tinha todas as informações sobre o Gradi. Disse que desconhecia o incidente a fuga dos presos que trabalhavam para a unidade, em carro da PM, duas semanas antes de sua saída. ""O serviço reservado está em todo o Estado. Como é que eu ia analisar cada ação individualmente. Há uma escala de comando."
O ex-comandante diz que ficava ""tranquilo" com as ações do reservado porque os presos somente saíam da prisão com ordem judicial. ""Um juiz não vai conceder autorização se entender que ela não deve ser dada, se não confiar nas pessoas que fizeram a solicitação e no que será feito."
Sobre as mortes, Melo diz que a Folha pegou apenas os casos ""emblemáticos" para a construção da reportagem. ""Às vezes acontece tiroteio. A PM também descobriu várias centrais telefônicas sem dar um único tiro."


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