São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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Mulher vive sob pedra há mais de 25 anos

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Debaixo de uma pedra dentro da mata, Isabel Bucklancaster, 64, vive sozinha há pelo menos sete anos, no Jardim Paraná, zona norte de São Paulo.
A infra-estrutura da moradia se resume a uma cama e uma torneira, que traz água do alto do morro onde está a pedra. Não há luz elétrica.
Apesar das precárias condições, ela afirma que pretende continuar no local. Aparentemente lúcida, disse que mora ali há 25 anos, mas entre os vizinhos circulam versões bastante discrepantes -ela viveria debaixo da pedra há 15 ou 40 anos.
Debilitada por causa de um problema na perna, Isabel mal se levanta da cama e sobrevive graças à ajuda da vizinhança.
O desempregado Cláudio de Oliveira da Silva, 18, leva comida dia sim, dia não. Durante a visita da reportagem da Folha, ele surgiu com um vidro cheio de chá. "A gente passa por dificuldade, mas o que é um prato de comida?", indaga Cláudio, que mora com a mulher, também desempregada, e a filha de nove meses, em dois cômodos.
A história de Isabel virou lenda entre os moradores. Há quem diga que ela era muito rica e, depois, teria fugido para a floresta.
Isabel conta que nasceu em São Carlos (231 km de SP), onde viveu até os nove anos. Em São Paulo, teria trabalhado na limpeza de escritórios em Moema.
Sobre a origem de seu pomposo sobrenome, Bucklancaster, disse: "era do meu pai, ele trabalhava numa fábrica de facas".

Jardim Paraná
A pedra usada por Isabel não é a única moradia improvisada do Jardim Paraná. Ao lado da mata, nas encostas do morro, estão casas sem acabamento e barracos. As ruas são de terra e não há água tratada nem esgoto.
O motorista Antônio de Souza, 46, é um dos 28 moradores que integra a Associação dos Amigos do Jardim Paraná. De acordo com ele, existem cerca de 1.700 famílias vivendo na área, que está sendo regularizada.
Desde abril de 2000, eles estão comprando o terreno onde moram, que inclui a pedra de Isabel. "Quando adquirimos a terra, conseguimos credibilidade do governo", diz Souza.
Até a primeira quinzena de agosto, deve ser inaugurada parte da rede de água. A associação pretende ainda ampliar a casa de Isabel. Eles querem construir um barraco em frente à pedra, com banheiro e luz elétrica.


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