São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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SAÚDE

Baixa estatura pode ser sinal de problemas nutricionais ou distúrbios hormonais e psicológicos da criança

Crescimento é "medidor" da saúde

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem todas as crianças com baixa estatura têm um problema de saúde. Mas por trás do déficit podem estar problemas nutricionais, distúrbios na produção de hormônios, além de fatores psicológicos que, se afastados a tempo, não impedem a retomada do desenvolvimento normal.
A avaliação do crescimento é um método simples de verificação das condições de saúde de crianças e adolescentes, diz o pediatra da unidade de Endocrinologia do ICr (Instituto da Criança) do Hospital das Clínicas de São Paulo, Hilton Kuperman. Por isso, a Sociedade Brasileira de Pediatria defende o acompanhamento de perto do crescimento pelo pediatra. Segundo Jayme Murahovschi, presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da sociedade, são necessárias consultas frequentes, que servem para uma avaliação global.
"No primeiro ano de vida, a consulta deve ocorrer todos os meses. No segundo, a cada dois meses. Quando a criança for maior, pelo menos uma vez por ano", diz. Somente com o acompanhamento do pediatra é possível verificar se o crescimento é adequado ao padrão da família e se ocorre na velocidade devida ou tem alterações bruscas.
O instrumento principal dos pediatras para avaliação do crescimento são curvas que relacionam idade e altura por sexo, feitas a partir de dados da população norte-americana (veja ao lado reprodução de curvas feitas pelo governo norte-americano).
As curvas dividem as crianças em "canais" de crescimento, os percentis. É como se cem crianças de diferentes estaturas fossem agrupadas em uma fila. Uma criança que esteja no percentil 10 é mais baixa do que 90% das crianças norte-americanas.
O fato de uma criança estar abaixo do percentil 5 (no caso das curvas ao lado) é um sinal de alerta, mas não significa que exista necessariamente algum problema. De acordo com Murahovschi, a razão pode ser hereditária ou uma ocorrência muito comum nos consultórios, o atraso constitucional do crescimento e da puberdade -disparidade entre "idade óssea" e idade cronológica.
Uma criança pode ter 12 anos e um esqueleto de uma criança de nove. Confirmado o atraso por meio de exames, basta esperar. Essas crianças alcançam mais tarde o tamanho adequado.
Os distúrbios hormonais são também preocupantes, afirma Kuperman, apesar de pouco frequentes. A deficiência de hormônio do crescimento e de hormônio da tireóide são causas de baixa estatura. A reposição deve ocorrer o quanto antes, na puberdade, enquanto os ossos ainda têm capacidade de crescer. Portadores de problemas congênitos, como a Síndrome de Turner (anomalia cromossômica que acomete meninas), também podem ser beneficiados pela reposição do hormônio do crescimento, diz Kuperman. Nos dois casos, a reposição tem de ser feita até que o jovem pare de crescer.
Os fatores nutricionais ainda são a principal causa de baixa estatura no país. Em 1996, 10,5% das crianças com menos de cinco anos tinham déficit da estatura em relação à idade por causa de má nutrição. A avaliação é sobre crianças que têm domicílio. "Há uma tendência em se achar que nosso problema agora é só obesidade. Mas o déficit nutricional continua existindo. A avaliação estatura-idade mostra as sequelas", diz José Augusto Taddei, chefe da disciplina de Nutrição e Metabolismo da pediatria da Universidade Federal de São Paulo.


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