São Paulo, terça, 28 de julho de 1998

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POLÍCIA
Homem seqüestrou o ônibus em que viajava e ameaçou matar sua mulher com uma foice caso não o levassem até a Rota
Motorista faz mulher de refém por 7 horas

MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

O motorista João Vital do Ó, 39, que sofre de problemas mentais, foi preso em flagrante na manhã de ontem, sete horas após tomar como refém sua mulher, Rosa Maria de Lima Barbosa, 26, e sequestrar no Terminal Rodoviário do Tietê (zona norte de SP) o ônibus da empresa Cometa em que vieram do Rio de Janeiro.
Assim que os demais passageiros do ônibus desceram, Vital agarrou a mulher e, segurando uma foice de jardinagem, ameaçou matá-la.
Ele mandou o motorista do ônibus, José Carlos Alho Batista, 46, levá-lo até a sede da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), da PM.
Vital queria falar com um coronel da Rota e que nomes famosos da imprensa fossem chamados para fazer a cobertura do sequestro. Caso contrário, mataria a mulher.
Na sexta-feira antes do sequestro, Vital havia tentado se matar, cortando os pulsos. No dia seguinte, segundo Rosa, ainda sob o efeito de calmantes, ele se embriagou.
O caso só foi resolvido após muito diálogo entre Vital, policiais da Rota e do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais).
Às 7h10, o sequestro terminou, quando as negociações eram conduzidas pelo capitão Diógenes Viegas Dalle Lucca, do Gate.
"Após sete horas de conversa, deu para perceber que ele não queria a morte e, devido ao cansaço, ele se convenceu a entregar a arma e se render", disse Lucca.
Preso em flagrante, Vital foi levado para o 12º DP (Pari), onde foi autuado em flagrante por cárcere privado pelo delegado Valdemir Chicarelle, que pediu exames psiquiátricos do acusado. Segundo o delegado, Vital ficará afastado dos outros presos. "Ele tem de ficar isolado até que passe esse surto."
Vital não soube explicar a razão do sequestro, mas, segundo Rosa, ele dizia que estava sendo perseguido e que queriam matá-lo.
"Ele esteve tranquilo durante a viagem toda. Passou o tempo todo me abraçando e me beijando, mas, cada vez que passava um passageiro, ele levava a mão à sacola (onde carregava a foice)", disse Rosa.
"Depois que os outros passageiros desceram é que ele veio do fundo, mandando que eu o levasse para a Rota", disse Batista, da empresa Cometa, que chegou à 0h07 no terminal do Tietê.
Até as 13h, o motorista não havia saído do 12º DP (Pari). "Tudo que eu quero é dormir", disse Batista, que nunca passou por nada parecido em 25 anos de carreira.
Ao chegar na delegacia, Vital gritava: "Eles (os policiais) vão me matar". Ele só se acalmou na presença da ex-mulher, Helena, que viveu com Vital por 18 anos.
Segundo Helena (ela não quis dizer seu sobrenome), Vital passou os últimos quatro meses em São Paulo. Para Rosa, a atual mulher, ele dizia que estava em um sítio, em busca de tratamento para sua doença mental, o que não aconteceu, segundo Helena.



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