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Susep e seguros de saúde unidos contra todos
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Deviam riscar da Constituição
brasileira o que consta ali sobre o
dever do Estado de prover saúde
para o cidadão. Basta ver a barbaridade que nos impõem as empresas de seguros e planos de saúde. Quem paga sabe o quanto revoltante são os seguros e os planos
de saúde. A nova regulamentação, que entrou em vigor este ano,
não passa de um conjunto de quesitos engendrados para prejudicar
o consumidor e favorecer (agora
por lei) as seguradoras e os planos.
O órgão encarregado de regular,
fiscalizar e autorizar aumentos
nos seguros de saúde é a Susep
(Superintendência de Seguros Privados), ligada ao Ministério da
Fazenda. O absurdo já começa aí:
como é que uma empresa que lida
com a saúde das pessoas pode estar submetida aos critérios dos
tecnocratas da cancerígena economia brasileira?
Pois bem, a Susep (essa grande
abstração, esses homens de quem
nunca se ouviu falar) é composta
por uma organização de lobistas
(chamados "técnicos") que atuam
explorando o consumidor em favor das empresas de seguros de
saúde. "E não há Idec, não há
Procon que derrube aquela máfia", um advogado me disse.
Pois bem, com a entrada em vigor da nova legislação para seguros e planos de saúde, as seguradoras fizeram um lobby que funciona assim: não "compram" as
carências dos clientes uma da outra. Ou seja: se a pessoa tem um
seguro-saúde da Marítima Seguros, por exemplo, e quer mudar
para a Bradesco Saúde, não se leva em conta o tempo que ela permaneceu vinculada à Marítima.
Terá que entrar na Bradesco como novata, sujeita a todas as restrições dos períodos de carência
impostos ao associado de primeira viagem.
Contra isso, a Susep nada faz.
Outro exemplo do comprometimento do órgão em favor das seguradoras: em junho deste ano, a
Susep autorizou aumento de, no
máximo, 10% aos seguros de saúde. Algumas seguradoras, no entanto, pediram outro aumento,
por "variação de sinistralidade", e
conseguiram. A variação de sinistralidade ocorre quando "a demanda pelos serviços fica acima
das projeções feitas pela empresa". Ou seja: quando o segurado
usa o seguro mais do que a empresa previu!
Pois bem, os seguros-saúde da
Marítima aumentaram quase
19% em junho, com autorização
da Susep e sem que a Susep tenha
ido perguntar ao segurado se ele
realmente usou o seguro mais do
que o previsto. Ora, que tipo de regulamentação é essa que permite
que o segurado seja aumentado
toda vez que ele usar o seguro
"mais do que o previsto"? Um
abuso declarado.
Pois bem, pelo que tenho lido,
esse órgão chamado Susep prima
pelo lobby, pelo desrespeito ao direito do cidadão e pela ineficiência acintosa. No início deste mês,
Luís Nassif comentou, em sua coluna na Folha, sobre a inércia do
Ministério da Fazenda:
"O caso mais acintoso é o da regulamentação dos planos de saúde, que está desde outubro do ano
passado na gaveta do superintendente da Superintendência de Seguros Privados (Susep) -uma
demora não apenas escandalosa
em si, mas tremendamente negativa para a imagem do governo,
dada a repercussão que cercou a
lei dos planos de saúde."
Susep, Estado, sinistralidade:
unidos contra todos ou contra
idiotas que pagam e ainda escrevem sobre a idiotice.
E-mail: mfelinto@uol.com.br
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