São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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TRÂNSITO

Única diferença é visual personalizado, que beira 15% do custo; duas compras foram por carta-convite e uma, sem licitação

Capacete da CET sai até 124% mais caro

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) de São Paulo fez, nos últimos 13 meses, três compras de capacete para motociclistas, totalizando 574 unidades, por preços até 124% superiores aos do mercado varejista.
O produto adquirido pela CET é da marca Taurus, modelo Zarref. Nas duas primeiras compras, em agosto de 2001 e janeiro de 2002, a CET pagou R$ 246,50 pela unidade. Na última, em julho, R$ 199.
Esse modelo de capacete é oferecido em lojas para motociclistas por preços entre R$ 110 e R$ 120. Na fábrica, sai por R$ 105.
A única diferença do produto comprado pela CET, considerada "insignificante" por Edsonildo Lopes de Andrade, técnico da companhia, são detalhes do visual -ele tem uma faixa refletiva nas cores preta e amarela, na parte central, e um adesivo atrás.
As despesas com a personalização, segundo os próprios fornecedores dos capacetes, beiram 15% do preço final de cada unidade -entre R$ 20 e R$ 30-, já incluídas a compra do material e a contratação de mão-de-obra especializada para esse acabamento.
Das três compras feitas pela CET, duas foram por carta-convite -modalidade mais simples e rápida de licitação, em que são convidadas ao menos três empresas para apresentar os preços. Juntas, elas custaram R$ 111.465.
Na compra feita em janeiro último, não houve licitação. Os valores dispensavam a sua realização -R$ 13.440, por 64 capacetes.
Na última delas, em julho, a CET queria adquirir 300 unidades e convidou cinco empresas -das quais duas, a Prot. Cap. Artigos para Proteção Industrial Ltda e a Max-Fer Comercial Ltda, disseram à Folha que nem sequer vendem capacetes para motociclistas. Uma terceira, a Cebran, embora faça a venda, não é especializada.
Entre as convidadas, a única proposta, de R$ 237, foi da O. Filizzola Cia Ltda, que já havia vendido esse produto para a CET, nas duas compras anteriores, por R$ 246,50. Ela só não vendeu de novo porque a Casa do Capacete ofereceu por R$ 199 -mesmo sem ser convidada e sem poder comprar esse produto direto do fabricante, em razão de rixas comerciais.
A Casa do Capacete diz que a quantia paga pela CET até então estava "superfaturada" e que sua proposta, embora superior à média de mercado, se deve às condições adversas que enfrentou.
A O. Filizzola Cia Ltda, fornecedora anterior, considera que seus preços são superiores porque, não sendo uma microempresa, paga mais impostos. "Temos uma carga tributária muito alta. Já saímos com uma perda de 25% em relação às lojas", afirma Luiz Borges, gerente da empresa.
Entre as condições adversas citadas pela Casa do Capacete estão, por exemplo, a impossibilidade de comprar os produtos na fábrica. O gerente de vendas da Taurus, Gianfranco Ugo Milani, diz que não faz essa venda porque ela é uma concorrente e porque ela não teria pago uma dívida, há três anos, na data definida.
A Casa do Capacete diz que teve dificuldades para comprar os modelos na cor branca, exigida pela CET. Funcionários da empresa foram ao interior do Estado e compraram até modelos com adesivos, mais caros, para fazer as adaptações depois. A Taurus admite que, por causa das rixas, "segurou" na fábrica, de propósito, a cor branca do produto.
"A gente conseguiu comprar nas lojas e ainda ganhamos algum dinheiro", diz Donato Esposito, proprietário da Casa do Capacete.


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