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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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ENTREVISTA

Prevenção ao alcoolismo no Brasil pode servir de modelo a outros países

AFRA BALAZINA
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO

O Brasil foi escolhido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para a implementação de um programa de prevenção ao alcoolismo, que já está em andamento desde o início do ano em Ribeirão Preto (314 km de São Paulo).
Dados da organização mostram a necessidade desse tipo de ação no país: dos 12 principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças ou para a incapacitação em diversos níveis -como tabaco e colesterol, por exemplo-, o álcool está acima de qualquer outro e é a primeira causa.
O projeto Disseminação e Implementação de Estratégias de Diagnóstico e Intervenção Breves para Problemas Relacionados ao Álcool foi debatido na semana passada em Ribeirão em um simpósio. Seu diretor, Isidore Obot, 52, e o consultor da OMS e chefe do departamento de saúde comunitária da Universidade de Connecticut (EUA), Thomas Babor, 59, falaram à Folha. Segundo eles, o Brasil poderá, inclusive, ser modelo para outros países no combate ao uso do álcool. Um dos motivos seria o PSF (Programa Saúde da Família) para disseminar a campanha antialcoolismo.

Folha - Por que a OMS tem se preocupado com a prevenção do alto consumo de álcool?
Thomas Babor
- Existem hoje cerca de 60 doenças que podem ser relacionadas ao uso abusivo do álcool.
Isidore Obot - Algumas dessas doenças são causadas estritamente pelo álcool, como a cirrose. Outras têm uma relação menos direta, como câncer de garganta e doenças do coração.
Babor - Os maiores problemas da atualidade relacionados ao álcool são os ferimentos em geral, quedas, acidentes de trabalho e a violência doméstica.

Folha - Que números comprovariam essa importância em prevenir o consumo excessivo e a dependência do álcool?
Obot
- Se colocarmos todas as doenças juntas e tentarmos estimar o custo delas para a sociedade, o álcool contribui com 4% para isso. É importante ressaltar que esse valor de 4% é mundial. Mas existem regiões em que esse número é maior. Em países de baixa mortalidade e em desenvolvimento, como o Brasil, por exemplo, o valor está em 7,8%.

Folha - Foi por isso que o Brasil foi escolhido para implementar o projeto de prevenção ao uso abusivo do álcool?
Babor
- Apesar de não ser a única razão, esse foi o motivo principal. Aqui e na África do Sul, onde também existe um projeto semelhante, há altas taxas de consumo de álcool e um aumento das taxas de problemas de saúde relacionados a isso.

Folha - Que países hoje seriam exemplos na prevenção ao uso abusivo de álcool?
Obot
- Esse projeto já foi implementado em países desenvolvidos da Europa, como Espanha, França, Holanda e Suécia, e também no Canadá e na Austrália.

Folha - E o Brasil deve imitar esses países?
Babor
- Eu acho que isso não será necessário. Esses países têm alta tecnologia e profissionais muito bem preparados, mas aqui vemos programas como o PSF, que proporciona a visita às casas das famílias e é talvez uma melhor forma de desenvolver a prevenção eficaz ao alcoolismo.
Obot - Eu acho, na verdade, que, em vez de o Brasil imitar outros países, muitos vão acabar copiando o modelo brasileiro. O método daqui se enquadra melhor no contexto da prevenção.

Folha - Qual é o objetivo principal do projeto?
Babor
- É desenvolver tecnologias e procedimentos para mudar o comportamento de beber das pessoas. E sabemos que, quando um médico ou uma enfermeira conversa com o paciente para reduzir o consumo de bebida e dá a ele informação sobre os riscos, cerca de 20% a 30% dos pacientes irão reduzir de um nível alto de consumo para um nível moderado ou baixo. Sabemos que isso funciona: quando o médico vê o paciente algumas vezes e mostra o que precisa ser feito, ele irá responder. Estamos tentando fazer com que o maior número possível de profissionais de saúde, desde o médico até o agente de saúde, use o mesmo procedimento.

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