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Adolescente divide dinheiro com a mãe
DA ENVIADA ESPECIAL A SAPÉ
Descalça, Raquel, 15, desce quase correndo o morro da Vargem
do Rato, considerado o bairro
mais violento de Sapé. Sorri, mas
os olhos não seguem os lábios.
Quatro anos após ter entrado na
prostituição para alimentar mãe e
quatro irmãos, ficou doente e sem
dinheiro. "Peguei uma tal de "guinorréia" [gonorréia". Sinto dor.
Estão me dizendo que minha vagina vai fechar." Ela está há quase
um mês sem fazer programa.
Folha - Vale a pena fazer programa?
Raquel - Acho que não. Faz mal.
Mas prefiro passar fome do que
ver minha mãe passando fome.
Folha - Quanto você dava a ela?
Raquel - Eu trabalhava um dia
para ela e um dia para mim.
Folha - E se você fizesse mais de
um programa por noite?
Raquel - Um era meu. O outro,
dela. Quando ficava duas ou três
noites fora, ela não dormia nem
comia. Eu voltava, dava dinheiro
a ela, e ela comprava coisas.
Folha - É bom trabalhar no bar
Cheiro de Menina?
Raquel - Bom e ruim. Era escravidão. Ganhava R$ 25 por semana, o programa era fora. A pessoa
é obrigada a beber. Se quebrar um
copo, desconta. Se não beber, ele
também diz que não paga.
Folha - Quanto você dava ao dono
do bar por programa?
Raquel - R$ 10.
Folha - O programa não é R$ 15?
Raquel - Mas lá tem que dar R$
25: R$ 10 para o dono e R$ 15 para
mim. Uns tantos queriam fazer de
tudo. Eu dizia: "Não é porque você
está me dando R$ 15 que eu vou
ter de fazer tudo com você". Eles
respondiam que davam R$ 25.
Folha - E a história de ter sido pega com meio quilo de maconha?
Raquel - Eu e uma amiga fomos
de carona até Natal. Quando chegamos, fui para o hospital. O bebê
já estava morto. Quando o juizado apareceu, tive de dizer que morava em Sapé. Eles disseram: "Você vai com a gente". Levei minha
bolsa. Quando abri, vi uma lata de
cola e maconha, mas não era meu.
Botaram para me prejudicar. Ela
botou as coisas e carregou as roupas. Fiquei com a roupa do corpo.
Folha - Por que foi para Natal?
Raquel - Fiquei grávida, o cara
não quis assumir. Usava maconha, cola, lança-perfume e tíner.
Folha - Com que dinheiro você
comprou suas roupas?
Raquel - Me vendendo, né?
Folha - Qual o máximo que já ganhou num programa?
Raquel - R$ 150.
Folha - De uma só vez?
Raquel - Não. Aí é R$ 10, R$ 15.
Folha - Policiais fazem programa
com menores no Cheiro de Menina?
Raquel - Tem uns que dão cantada. Já deram em mim várias vezes.
Folha - E os caminhoneiros?
Raquel - Eles querem machucar.
Tem de fazer tudo. Vivia nessa vida pela minha mãe. Ela toma remédio controlado. Se meu pai estivesse vivo, não deixaria.
(GA)
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