São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004

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SEGURANÇA

Secretário cumpriu integralmente apenas 7 dos 15 principais compromissos feitos desde que assumiu o cargo no Rio

Após 1 ano, Garotinho não cumpre promessa

MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

O secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, completou ontem um ano à frente do cargo, mas parte das promessas que anunciou no período não saiu do papel. Levantamento da Folha mostra que, de suas 15 grandes promessas, 7 foram cumpridas integralmente e 3, parcialmente.
Garotinho assumiu em meio ao aumento de ações violentas do tráfico. Havia ainda uma disputa na cúpula da pasta entre o então secretário, Josias Quintal, e o chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins.
Entre as promessas não cumpridas estão a obrigatoriedade de exames de drogas em policiais, a instalação de cabines blindadas, a reformulação de cinco delegacias especializadas e a compra de cinco helicópteros com câmeras que transmitiriam as imagens para os gabinetes da governadora Rosinha Matheus e do secretário.
Além disso, presos também não passaram a costurar fardas para a PM nem a construir casas populares, e não há monitoramento por câmeras em 500 pontos. Estimado em R$ 100 milhões, o projeto das câmeras seria feito em convênio com a Telemar. A Embratel, concorrente da Telemar, acionou o Estado ao exigir licitação.
O secretário abandonou o projeto e criou nos batalhões salas de monitoramento, com câmeras em pontos estratégicos -o que só 3 dos 22 batalhões têm.
Garotinho também prometeu retirar os presos das delegacias da capital. A secretaria extinguiu as carceragens, mas levou os presos para o que passou a chamar de delegacias concentradoras. Com novo nome, os presos continuam em carceragens no município.
A redução de dez índices criminais (ele ameaçou demitir Renato Hottz, comandante-geral da PM, e Álvaro Lins, se não ocorresse) foi parcialmente obtida: subiram homicídio doloso (10%), roubo a residência (4,5%) e roubo a estabelecimento comercial (5%).
O secretário também anunciara que a polícia agiria sem violência nas comunidades carentes. O número de autos de resistência (pessoas mortas pela polícia) cresceu 10% de maio a dezembro de 2003 em relação ao mesmo período de 2002. O número de policiais mortos em serviço subiu 15,4%.
Foi cumprida a promessa de enquadrar como associação para o tráfico pessoas presas queimando ônibus, que respondiam por crime contra o patrimônio. Segundo o delegado Rodrigo Oliveira (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), há cerca de 30 acusados por esse tipo de crime.
Houve também compra de carros policiais sem licitação. Para a pasta, a concorrência foi dispensada por critério de padronização.
O secretário contratou 1.103 novos delegados, fez concursos para mais 4.000 PMs e inaugurou um batalhão no complexo da Maré (um dos maiores e mais violentos conjunto de favelas do Rio), além de comprar equipamento de interceptação telefônica que monitora até 800 ligações simultâneas.

Outro lado
A Folha tentou marcar entrevista com Garotinho por três dias, mas ele disse que não falaria com o jornal sobre segurança. Só receberia a reportagem, disse sua assessoria, para falar sobre política.
O comandante-geral da PM, Renato Hottz, afirmou que o aumento dos autos de resistência e o número de PMs mortos são resultados da maior repressão ao tráfico de drogas.
O chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, afirmou que o aumento de homicídios e assaltos a residência e ao comércio é superado pela queda de outros tipos de crime monitorados mensalmente. Ele disse que a reformulação das cinco delegacias especializadas não saiu do papel porque há uma ação judicial questionando a área que seria destinada às delegacias.


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