São Paulo, sábado, 29 de abril de 2006

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INFÂNCIA

Índice entre crianças nos acampamentos é de 14,8%, mais do que o dobro da média entre as do semi-árido, revela pesquisa

Desnutrição é maior em assentamentos

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com menos acesso a serviços públicos, as crianças menores de cinco anos que moram em assentamentos estão muito mais vulneráveis do que as que vivem no semi-árido brasileiro, região mais pobre do país, quando o assunto é desnutrição infantil.
Uma pesquisa inédita divulgada ontem demonstra que o índice de desnutrição crônica nos assentamentos do semi-árido atingiu 14,8% no ano passado. É mais do que o dobro da média obtida em oito Estados do Nordeste e no norte de Minas Gerais, que ficou em 6,6% no mesmo período.
A taxa nos assentamentos está mais próxima do índice verificado no Nordeste em 1996, quando 17,9% das crianças menores de cinco anos apresentaram desnutrição. Já o índice aceitável internacionalmente é de 2,3%.

"Situação desafiadora"
"Os assentamentos apresentam uma situação mais desafiadora em termos de política pública voltada à área social", diz o secretário de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social, Rômulo Paes de Sousa. A pesquisa nos assentamentos foi feita pelo Ministério do Desenvolvimento Social em agosto de 2005 durante a Campanha Nacional de Vacinação. Ocorreu simultaneamente à Chamada Nutricional, que avaliou as crianças do semi-árido.
O levantamento envolveu 1.428 crianças em um universo de 102.661 menores de cinco anos que vivem em assentamentos nos Estados do Nordeste e no norte de Minas. Do total, 90,2% delas vêm de famílias da classe E, e 60,4% são filhas de mães que têm, no máximo, quatro anos de estudo.
Entre as crianças desnutridas, o perfil da família também não muda muito: 19% são filhas de mães sem escolaridade, e outras 15% de mulheres que nem sequer fizeram o ensino fundamental (estudaram entre um e quatro anos).
Em relação à situação socioeconômica, medida pelos bens que a família possui, 14,5% dos desnutridos são da classe E, e 8,5% da classe D. Para tentar reverter essa situação, o secretário afirma que o primeiro passo é fazer com que os problemas dessas famílias deixem de ser "invisíveis".
Para isso, foi feito esse levantamento, e universidades dos Estados envolvidos estão recebendo os dados visando levantar mais informações sobre o assunto.
Com o mesmo sentido, o governo federal prepara outras duas pesquisas relacionadas à desnutrição: de comunidades quilombolas e de indígenas.

Políticas públicas
Outra medida a ser adotada é intensificar as políticas públicas para os assentamentos, principalmente as ligadas a educação, saúde e segurança alimentar.
Dados do perfil das famílias dessas crianças dão uma idéia da estrutura da qual elas dispõem: 46,7% não têm água para beber tratada, e 56,4% estão em domicílios sem luz.
Em relação ao aleitamento materno exclusivo (quando a criança não consome nenhum outro tipo de alimento ou líquido), verifica-se que é mais intenso até o primeiro mês do bebê -85,3% só consomem o leite da mãe. Entre os menores de quatro meses, esse índice cai para 57,9%. Entre os até seis meses, é de 35,8%.


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