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INFÂNCIA
Índice entre crianças nos acampamentos é de 14,8%, mais do que o dobro da média entre as do semi-árido, revela pesquisa
Desnutrição é maior em assentamentos
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com menos acesso a serviços
públicos, as crianças menores de
cinco anos que moram em assentamentos estão muito mais vulneráveis do que as que vivem no semi-árido brasileiro, região mais
pobre do país, quando o assunto é
desnutrição infantil.
Uma pesquisa inédita divulgada
ontem demonstra que o índice de
desnutrição crônica nos assentamentos do semi-árido atingiu
14,8% no ano passado. É mais do
que o dobro da média obtida em
oito Estados do Nordeste e no
norte de Minas Gerais, que ficou
em 6,6% no mesmo período.
A taxa nos assentamentos está
mais próxima do índice verificado no Nordeste em 1996, quando
17,9% das crianças menores de
cinco anos apresentaram desnutrição. Já o índice aceitável internacionalmente é de 2,3%.
"Situação desafiadora"
"Os assentamentos apresentam
uma situação mais desafiadora
em termos de política pública voltada à área social", diz o secretário
de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social, Rômulo Paes
de Sousa. A pesquisa nos assentamentos foi feita pelo Ministério
do Desenvolvimento Social em
agosto de 2005 durante a Campanha Nacional de Vacinação.
Ocorreu simultaneamente à Chamada Nutricional, que avaliou as
crianças do semi-árido.
O levantamento envolveu 1.428
crianças em um universo de
102.661 menores de cinco anos
que vivem em assentamentos nos
Estados do Nordeste e no norte de
Minas. Do total, 90,2% delas vêm
de famílias da classe E, e 60,4%
são filhas de mães que têm, no
máximo, quatro anos de estudo.
Entre as crianças desnutridas, o
perfil da família também não muda muito: 19% são filhas de mães
sem escolaridade, e outras 15% de
mulheres que nem sequer fizeram
o ensino fundamental (estudaram entre um e quatro anos).
Em relação à situação socioeconômica, medida pelos bens que a
família possui, 14,5% dos desnutridos são da classe E, e 8,5% da
classe D. Para tentar reverter essa
situação, o secretário afirma que o
primeiro passo é fazer com que os
problemas dessas famílias deixem
de ser "invisíveis".
Para isso, foi feito esse levantamento, e universidades dos Estados envolvidos estão recebendo
os dados visando levantar mais
informações sobre o assunto.
Com o mesmo sentido, o governo federal prepara outras duas
pesquisas relacionadas à desnutrição: de comunidades quilombolas e de indígenas.
Políticas públicas
Outra medida a ser adotada é
intensificar as políticas públicas
para os assentamentos, principalmente as ligadas a educação, saúde e segurança alimentar.
Dados do perfil das famílias
dessas crianças dão uma idéia da
estrutura da qual elas dispõem:
46,7% não têm água para beber
tratada, e 56,4% estão em domicílios sem luz.
Em relação ao aleitamento materno exclusivo (quando a criança
não consome nenhum outro tipo
de alimento ou líquido), verifica-se que é mais intenso até o primeiro mês do bebê -85,3% só consomem o leite da mãe. Entre os
menores de quatro meses, esse índice cai para 57,9%. Entre os até
seis meses, é de 35,8%.
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