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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/IDENTIFICAÇÃO
Em SP, falta exame de DNA específico
Instituto de Criminalística não tem equipe especializada na extração de DNA mitocondrial para identificação de corpo
Técnica é utilizada no reconhecimento de vítimas que tiveram os corpos carbonizados no acidente, o que dificulta reconhecimento
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Instituto de Criminalística
de São Paulo não tem equipe
especializada na extração de
DNA mitocondrial, uma técnica utilizada em situações em
que as amostras estão altamente degradadas ou que apresentam pequena quantidade de
DNA nuclear. Esse pode ser o
caso de alguns dos corpos carbonizados no acidente.
Esse DNA está presente dentro das mitocôndrias, que são
as usinas energéticas das células e se localizam dentro do citoplasma. No método tradicional, que já está sendo feito em
São Paulo, o DNA analisado é
retirado do núcleo da célula.
A Folha apurou com cinco
peritos paulistas e três de outros Estados -que preferem
não se identificar- que, se for
necessário fazer esse tipo de
exame, São Paulo terá de trazer
técnicos de fora ou enviar as
amostras para outros locais
com mais experiência. Há pelo
menos três peritos paulistas
que fizeram um curso sobre o
exame, mas não têm prática na
sua execução como rotina.
Procurada, a assessoria de
imprensa do IC confirmou anteontem que o instituto não faz
a extração de DNA mitocondrial e que ainda não havia decidido o que faria caso precisasse recorrer a esse método.
Quarenta minutos depois, a
assessoria telefonou à reportagem corrigindo a informação:
"o IC tem sim condições de fazer esse exame aqui, no Estado
de São Paulo. Temos um especialista na área, temos equipamentos e todos os meios para
fazer o mitocondrial, mas, mesmo assim, não tem ainda nenhuma possibilidade [de fazê-lo]. Estamos trabalhando apenas com o DNA do núcleo."
A vantagem do DNA mitocondrial sobre o nuclear é a sua
abundância de material genético. Em uma célula são encontradas apenas duas cópias de
DNA nuclear e até mil cópias
do DNA mitocondrial. Dessa
forma, com o mitocondrial,
consegue-se extrair material
genético de fragmentos muito
pequenos, como um pêlo pubiano ou uma gota de sangue.
A desvantagem do exame é a
limitação. O DNA mitocondrial
contém herança puramente
materna. Por isso, para fazer o
exame, é necessário comparar
as amostras retiradas dos corpos com o material genético de
parentes matrilineares -a mãe
ou da avó da vítima, por exemplo. Outro problema é que, no
caso de irmãos mortos no acidente, esse exame não consegue especificar se o corpo era
de homem ou de mulher.
Para Trícia Albuquerque,
chefe do laboratório do IGP
(Instituto-Geral de Perícias)
do Rio Grande do Sul, referência no país na extração do DNA
mitocondrial, apenas um pequeno número de amostras [de
corpos das vítimas do acidente]
deve precisar da extração do
DNA mitocondrial.
"A carbonização não é o pior
dos fatores para degradar o
DNA. Grande parte das vítimas
serão identificadas pelo método tradicional. Mas, em fragmentos muito diminutos, onde
a quantidade de DNA é pequena e degradada, deve-se recorrer ao DNA mitocondrial."
Apesar de a Secretaria da Segurança Pública -que comanda o IC e o IML (Instituto Médico Legal)- ter negado durante a última semana a necessidade de ajuda de outros Estados
na identificação dos corpos,
tem chegado auxílio externo.
Na última quinta, por exemplo, o Instituto-Geral de Perícias do RS emprestou ao IC de
São Paulo um pulverizador
criogênico, equipamento utilizado para fazer a moagem de
ossos e dentes para posterior
extração de DNA.
Até então, o IML estava fazendo esse trabalho manualmente. Com o pulverizador,
que custa em torno de R$ 100
mil, é possível fazer três análises ao mesmo tempo, sem risco
de contaminação das amostras.
Além do RS, os laboratórios
da Bahia, do Rio de Janeiro e da
Polícia Federal também possuem o equipamento, comprado com recursos da Secretaria
Nacional de Segurança Pública.
Segundo o IC, São Paulo
aceitou o empréstimo do aparelho para agilizar o processo
de reconhecimento das vítimas. "Nós já estamos na lista
de recebimento [do aparelho],
mas ainda não chegou."
O mesmo IGP gaúcho entregou ao IC, também na quinta,
55 perfis genéticos de parentes
gaúchos de 27 vítimas do acidente da TAM. Segundo Áureo
Luiz Figueiredo Martins, diretor-geral do IGP, o instituto coletou amostras de sangue e
mucosa bucal e extraiu o DNA.
Além dessa ajuda, peritos
paulistas também estão em
constante troca de idéias com
outros profissionais que integram uma rede 17 laboratórios
no país especializados em perícias criminais.
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