São Paulo, domingo, 29 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/IDENTIFICAÇÃO

Em SP, falta exame de DNA específico

Instituto de Criminalística não tem equipe especializada na extração de DNA mitocondrial para identificação de corpo

Técnica é utilizada no reconhecimento de vítimas que tiveram os corpos carbonizados no acidente, o que dificulta reconhecimento

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Instituto de Criminalística de São Paulo não tem equipe especializada na extração de DNA mitocondrial, uma técnica utilizada em situações em que as amostras estão altamente degradadas ou que apresentam pequena quantidade de DNA nuclear. Esse pode ser o caso de alguns dos corpos carbonizados no acidente.
Esse DNA está presente dentro das mitocôndrias, que são as usinas energéticas das células e se localizam dentro do citoplasma. No método tradicional, que já está sendo feito em São Paulo, o DNA analisado é retirado do núcleo da célula.
A Folha apurou com cinco peritos paulistas e três de outros Estados -que preferem não se identificar- que, se for necessário fazer esse tipo de exame, São Paulo terá de trazer técnicos de fora ou enviar as amostras para outros locais com mais experiência. Há pelo menos três peritos paulistas que fizeram um curso sobre o exame, mas não têm prática na sua execução como rotina.
Procurada, a assessoria de imprensa do IC confirmou anteontem que o instituto não faz a extração de DNA mitocondrial e que ainda não havia decidido o que faria caso precisasse recorrer a esse método.
Quarenta minutos depois, a assessoria telefonou à reportagem corrigindo a informação: "o IC tem sim condições de fazer esse exame aqui, no Estado de São Paulo. Temos um especialista na área, temos equipamentos e todos os meios para fazer o mitocondrial, mas, mesmo assim, não tem ainda nenhuma possibilidade [de fazê-lo]. Estamos trabalhando apenas com o DNA do núcleo."
A vantagem do DNA mitocondrial sobre o nuclear é a sua abundância de material genético. Em uma célula são encontradas apenas duas cópias de DNA nuclear e até mil cópias do DNA mitocondrial. Dessa forma, com o mitocondrial, consegue-se extrair material genético de fragmentos muito pequenos, como um pêlo pubiano ou uma gota de sangue.
A desvantagem do exame é a limitação. O DNA mitocondrial contém herança puramente materna. Por isso, para fazer o exame, é necessário comparar as amostras retiradas dos corpos com o material genético de parentes matrilineares -a mãe ou da avó da vítima, por exemplo. Outro problema é que, no caso de irmãos mortos no acidente, esse exame não consegue especificar se o corpo era de homem ou de mulher.
Para Trícia Albuquerque, chefe do laboratório do IGP (Instituto-Geral de Perícias) do Rio Grande do Sul, referência no país na extração do DNA mitocondrial, apenas um pequeno número de amostras [de corpos das vítimas do acidente] deve precisar da extração do DNA mitocondrial.
"A carbonização não é o pior dos fatores para degradar o DNA. Grande parte das vítimas serão identificadas pelo método tradicional. Mas, em fragmentos muito diminutos, onde a quantidade de DNA é pequena e degradada, deve-se recorrer ao DNA mitocondrial."
Apesar de a Secretaria da Segurança Pública -que comanda o IC e o IML (Instituto Médico Legal)- ter negado durante a última semana a necessidade de ajuda de outros Estados na identificação dos corpos, tem chegado auxílio externo.
Na última quinta, por exemplo, o Instituto-Geral de Perícias do RS emprestou ao IC de São Paulo um pulverizador criogênico, equipamento utilizado para fazer a moagem de ossos e dentes para posterior extração de DNA.
Até então, o IML estava fazendo esse trabalho manualmente. Com o pulverizador, que custa em torno de R$ 100 mil, é possível fazer três análises ao mesmo tempo, sem risco de contaminação das amostras.
Além do RS, os laboratórios da Bahia, do Rio de Janeiro e da Polícia Federal também possuem o equipamento, comprado com recursos da Secretaria Nacional de Segurança Pública.
Segundo o IC, São Paulo aceitou o empréstimo do aparelho para agilizar o processo de reconhecimento das vítimas. "Nós já estamos na lista de recebimento [do aparelho], mas ainda não chegou."
O mesmo IGP gaúcho entregou ao IC, também na quinta, 55 perfis genéticos de parentes gaúchos de 27 vítimas do acidente da TAM. Segundo Áureo Luiz Figueiredo Martins, diretor-geral do IGP, o instituto coletou amostras de sangue e mucosa bucal e extraiu o DNA.
Além dessa ajuda, peritos paulistas também estão em constante troca de idéias com outros profissionais que integram uma rede 17 laboratórios no país especializados em perícias criminais.


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